Roma, 14 de maio de 2006. Após longas cinco horas e seis minutos de uma intensa decisão, bastava apenas mais um ponto para o campeão do Masters 1000 de Roma ser decretado na partida entre Roger Federer e Rafael Nadal. Mas, para chegarmos até aqui, muita estrada precisou ser percorrida e obstáculos superados.
O caminho de Federer até Roma
O suíço Roger Federer começou a praticar tênis aos 8 anos de idade e logo se tornou um dos melhores jogadores juvenis de seu país. Em 1998, Federer se tornou tenista profissional e, em 2001, comemorou seu primeiro título, o ATP de Milão.
Esse foi apenas o primeiro dos 35 títulos que Federer já havia conquistado até chegar à final de Roma em 2006. Nesse período, Federer venceu sete Grand Slams, torneios mais importantes dentro do circuito, e assumiu a posição de número um do mundo em 2004.
![Roger Federer segurando a raquete](http://jornalismojunior.com.br/wp-content/uploads/2021/06/Imagem-1.jpg)
A trajetória de Nadal até Roma
O espanhol Rafael Nadal se aproximou do tênis pela primeira vez com 3 anos de idade. Influenciado por Toni Nadal — seu tio e técnico —, o tenista iniciou sua carreira profissional em 2001, aos 15 anos de idade. Com 16, firmou-se entre os 50 tenistas no ranking da Associação de Tenistas Profissionais (ATP).
No ano de 2005, Nadal conquistou 11 títulos, entre eles o seu primeiro Roland Garros. Já no momento da final de Roma, em 2006, ele era o segundo melhor tenista do mundo, ficando atrás apenas de Roger Federer.
![Rafael Nadal segurando a raquete](http://jornalismojunior.com.br/wp-content/uploads/2021/06/Imagem-2-1.jpg)
Antecedentes da rivalidade
Os dois tenistas se enfrentaram pela primeira vez em 2004, na terceira rodada do Aberto de Miami. Nadal venceu com facilidade, abrindo o placar do que viria a ser uma das maiores rivalidades que o tênis já presenciou. Até a final de Roma, o confronto aconteceu em mais quatro ocasiões, e Federer levou a melhor em apenas uma delas, demonstrando a dominância do espanhol até a grande decisão.
Paul Annacone, ex-treinador de Federer e comentarista de tênis, analisa que grande parte das dificuldades que o suíço encontrava para bater Nadal era, principalmente, devido ao forehand alto e intenso do espanhol, que tinha como principal alvo o backhand de Federer, ponto fraco de seu jogo, uma vez que dificultava suas ações ofensivas.
Esse cenário gerou uma grande expectativa na partida de Roma. A mídia e os fãs do esporte aguardavam ansiosamente por uma disputa que poderia colocar em risco a ideia de que Federer era o melhor tenista de sua geração, perdendo esse lugar para um jovem tenista que chegava ao circuito com muita confiança.
![Federer e Paul Annacone apresentando um livro, em uma mesa](http://jornalismojunior.com.br/wp-content/uploads/2021/06/Imagem-3-1.jpg)
O duelo
Finalmente chegamos ao momento decisivo, 15 anos atrás, quando Federer e Nadal se encontraram no saibro italiano para disputar a tão esperada final. De um lado, um tenista experiente, número um do mundo, e que havia feito um ano quase perfeito — não fossem duas derrotas para Nadal. Do outro, um jovem tenista espanhol que mantinha uma invencibilidade de mais de um ano no saibro e que exigia de Federer seu melhor tênis para enfrentá-lo.
O jogo começou com um primeiro set equilibrado e, apesar de Federer ter tido um set point no penúltimo game, o set só foi decidido no tie-break, em que sua agressividade prevaleceu, impondo 7 a 0 no oponente. No segundo set, foi a vez de Nadal ter a chance de fechar o set quando vencia por 5 games a 4, mas novamente a decisão ficou para o tie-break, com vitória do espanhol. No terceiro set, após quebrar o saque de Federer e abrir 3 games a 2, Nadal fechou o set por 6 a 4.
Federer voltou para o quarto set pressionado, mas bateu Nadal com tranquilidade Nadal. Em entrevista para o site ATPWorldTour, o suiço confessou que após a derrota na final de Monte-Carlo, três semanas antes do campeonato italiano, ele percebeu que era necessário manter um ritmo agressivo durante toda a partida para jogar contra Rafael Nadal. O placar demonstrou exatamente esse comportamento. Federer venceu por 6 a 2 e conseguiu levar o jogo para o último e decisivo set.
Após um começo brilhante, Federer abriu uma vantagem de 4 a 1, mas Nadal reagiu e empatou a partida em 4 a 4. O suíço teve ainda dois match points quando liderava por 6 a 5, porém, nas duas oportunidades, acabou errando duas bolas de forehand, seu golpe mais forte e confiável.
Em outro momento da entrevista para a ATPWorldTour, Federer disse que suas tentativas de se manter agressivo constantemente acabou atrasando muito de seus golpes, o que o levou a perder os dois match points. Esses erros martelaram na cabeça do jogador até o fim da partida.
Por outro lado, Nadal, que de acordo com Annacone é o jogador mais “ponto-a-ponto” que o treinador já viu, trabalhou cada ponto com a mesma importância e concentração. E com isso, vimos mais uma vez o set ser decidido no tie-break.
O espanhol, após se salvar por duas vezes durante o quinto set, entrou no tie-break com a moral elevada. Quando tudo parecia estar perdido para Roger Federer, ele abriu 5 a 3. No entanto, o pensamento nas oportunidades desperdiçadas desestabilizaram o suiço, e Rafael Nadal, com sua “capacidade de se colocar presente no momento atual de cada lance da forma mais consistente que qualquer outro jogador”, como afirmou Annacone, conquistou 4 pontos consecutivos e fechou o tie-break em 7 a 5.
Após cinco horas, o espanhol venceu, de forma brilhante, essa acirrada partida que entrou para a história.
![Nadal sorrindo com seu prêmio de vencedor do ATP de Roma](http://jornalismojunior.com.br/wp-content/uploads/2021/06/Imagem-4.jpg)
O início de uma rivalidade
Para muitos especialistas do esporte, essa partida simbolizou definitivamente o início de uma grande rivalidade entre Roger Federer e Rafael Nadal.
Outro fato interessante que marcou esse jogo foi um desentendimento que ocorreu entre os jogadores. Durante a partida, Federer alegou ter visto Toni Nadal instruir seu sobrinho — conduta ilegal no tênis — e, em um momento de nervosismo, o suíço se dirigiu à arquibancada e questionou o treinador adversário “Está tudo certo, Toni?”. Depois da partida, Nadal defendeu seu treinador e afirmou que Federer deveria manter sua postura mesmo quando estava perdendo.
Essa situação causou um clima estranho entre os jogadores e espectadores. Nesse contexto de tensões, provocações e disputas nascia uma das maiores rivalidades do tênis.
O histórico dos confrontos
Duas semanas após o jogo, os tenistas se reencontraram na premiação Laureus Sports Awards que aconteceu em Barcelona, onde Federer ganhou o prêmio de atleta do ano e Nadal de atleta revelação. Os dois tenistas se reconciliaram durante o evento e, apesar da rivalidade que nasceu em Roma ter se expandido cada vez mais dentro das quadras, fora dela começou a surgir uma amizade.
Ao todo, Federer e Nadal se enfrentaram 40 vezes, com 24 vitórias para o espanhol e 16 para o suíço. Em Grand Slams, Nadal venceu 10 das 14 partidas disputadas entre os tenistas.
Os dois protagonizaram as finais de Roland Garros de 2006 a 2008 e 2011; e as finais de Wimbledon entre 2006 a 2008. A final de Wimbledon em 2008, partida que durou incríveis quatro horas e 48 minutos — ou 6 horas, se considerar as paralisações por conta da chuva —, é considerada, para muitos especialistas, a melhor partida de tênis já disputada em toda a história.
Além disso, outro momento marcante na carreira dos atletas e da rivalidade ocorreu no ano de 2017. No ano anterior, as temporadas de Nadal e Federer terminaram mais cedo por conta de lesões no punho e no joelho, respectivamente. Após meses de recuperação, ambos voltaram às quadras no começo de 2017. Pouco se sabia da recuperação dos tenistas e como voltariam para as quadras. No entanto, logo no primeiro Grand Slam do ano (Australian Open), Federer e Nadal surpreenderam a todos ao protagonizarem mais uma final histórica, na qual Federer bateu Nadal por 3 sets a 2.
Na sequência da temporada, Federer ainda conquistou o título de Wimbledon, se tornando o maior vencedor do torneio com oito conquistas, e Nadal conquistou o título de Roland Garros (segundo Grand Slam disputado no ano), marcando um ano histórico para eles.
![Nadal e Federer posando para foto em cima da rede](http://jornalismojunior.com.br/wp-content/uploads/2021/06/Imagem-5.jpg)
Atualmente
Em 2020, após a paralisação dos torneios por conta da pandemia da COVID-19, Nadal voltou às quadras vencendo mais uma vez o título no saibro francês de Roland Garros e conquistou seu vigésimo título de Grand Slam empatando com Federer, o até então maior vencedor desse tipo de torneio no tênis.
A dúvida que nos resta hoje é saber até quando essas duas feras aguentarão. Federer, com problemas no joelho, realizou uma cirurgia em fevereiro de 2020 e não pisou nas quadras até sua estreia no ATP de Doha em março de 2021, aos 39 anos de idade.
Annacone falou sobre a longevidade de Federer e afirmou que o jogador é perseverante: “Seu entusiasmo no jogo permite a ele lutar contra a fadiga emocional como ninguém”. Mesmo com uma idade avançada, ele luta para continuar nas quadras com bom desempenho.
Para os fãs otimistas do esporte, como Annacone, espera-se que ele, assim como Nadal que já possui 35 anos, consiga ainda proporcionar ao público espetáculos por mais alguns anos.
O legado
Após longos anos de muitas tensões e disputas em quadra, os confrontos entre Nadal e Federer podem ser considerados a maior rivalidade do tênis. A visão de Paul Annacone sobre o assunto é bastante precisa: “Eles realmente mudaram a forma como nós olhamos para o jogo. Dois estilos muito diferentes, mas ótimos jogadores, que provavelmente não veremos igual novamente.”
Para Annacone, o conjunto de talentos que Federer possui, — movimentação, visão, coordenação —, além do seu entusiasmo constante nas partidas, que o faz jogar incansavelmente e pressionar os oponentes a todo momento, são as características que o fazem ser um grande fenômeno.
Já Nadal, na visão do ex-treinador de Federer, é um jogador incrivelmente focado, com a mente clara. Possui golpes altos e rápidos, habilidades que o tornam “uma pessoa incrivelmente difícil de derrotar”. E essas particularidades que tanto os diferenciam e, ao mesmo tempo, se complementam dentro de quadra, proporcionam partidas brilhantes, dignas de admiração.
Roger Federer e Rafael Nadal cravaram seus nomes na história do esporte como dois dos melhores tenistas de todos os tempos e construíram uma rivalidade ímpar, na qual travaram diversas batalhas épicas dentro das quadras, enquanto se tornavam grandes amigos fora delas.
![Selfie de Nadal e Federer](http://jornalismojunior.com.br/wp-content/uploads/2021/06/Imagem-6.jpg)
Excelente cobertura!!! Ótimo relembrar alguns acontecimentos e essa rivalidade espetacular. Parabéns pela matéria, ficou ótima!
Uma leitura didática e juz aos dois maiores tenistas de todos os tempos. Recomendo.