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‘O Brutalista’: uma experiência que premia o cinéfilo e merece ser premiada no Oscar

Uma história épica-dramática sobre traumas geracionais conquista sem cansar
O Brutalista
Por Bernardo Carabolante (bernardocm0411@usp.br)

Chega hoje (20) aos cinemas o filme O Brutalista (The Brutalist, 2024), dirigido por Brady Corbet. O drama foi alvo de críticas devido ao seu uso de Inteligência Artificial (IA), mas mesmo assim vem conquistando diversos prêmios nessa temporada de premiações e chega como um dos favoritos ao Oscar 2025, com 10 indicações.

Durante as 3h30 de filme, divididas em duas partes com 1h15 cada e somadas aos 15 minutos de intervalo, o público adentra à história de László Toth (Adrien Brody) e Erzsébet Toth (Felicity Jones), um casal húngaro-judaico que busca fugir para os Estados Unidos no pós Segunda Guerra Mundial, em 1947.

Felicity Jones não é apresentada no filme antes de 1h 57 minutos [Imagem: Divulgação/Imdb]

De início, apenas László consegue fugir, e, assim, o longa aborda a relação do casal de forma distante, através de flashbacks e cartas enviadas entre eles. Mesmo com esse impasse, a narrativa consegue fazer o espectador se importar e torcer pelo futuro de ambos.

Tal qual em O Pianista (The Pianist, 2002), Adrien Brody vive a história de um sobrevivente da guerra. Em O Brutalista, o ator também consegue transmitir os mais variados sentimentos durante as 3h30: a fraqueza após anos de guerra, a vergonha em se comunicar, o ego inflado depois de já ter se estabelecido no país e até o ódio pela repressão sofrida por ser judeu.

Adrien repete o feito de 23 anos atrás e chega como um grande favorito ao prêmio de Oscar de Melhor Ator [Imagem: Divulgação/IMDB]

Felicity Jones vive Erzsébet, jornalista e esposa de László, a responsável por dar o tom dramático necessário para os personagens ao redor e representar a vida difícil que o casal enfrenta. Ela demonstra a sua força ao enfrentar injustiças devido a sua condição física, comentários, doenças, saudade e ainda a guerra.  

Guy Pearce está na pele de Sr. Van Buren, um empresário rico, que, ao acolher László, está disposto a mostrar a todos o talento do arquiteto. Buren confia a ele um enorme projeto, e é durante esse processo de construção que a verdadeira face do empresário é mostrada, o que envolve assuntos delicados como estupro, xenofobia e antissemitismo.

No começo da história, László Toth recebe ajuda de um primo que já mora há algum tempo nos Estados Unidos, onde passam a trabalhar juntos para uma reforma no escritório do Sr. Van Buren. Mas o talento não os salva do desastre. Quando a resolução do projeto dá errado, uma série de momentos melancólicos e sérios são desencadeados, como o fracasso de László e a indignação ao ser confrontado por seu caráter.

“O maior escravo é aquele que se julga livre”

— Erzsébet

Meses depois, Sr. Van Buren volta a aparecer na vida de László e reconhece seu antigo trabalho na Hungria como arquiteto do estilo Brutalista. O movimento se caracteriza pelo concreto aparente nas obras, estrutura exposta, formas geométricas e escala monumental, assim como é o MASP em São Paulo.

Em entrevista ao The Jewish Chronicle, o diretor afirma que um dos motivos de fazer esta história sobre um judeu húngaro foi manter a fidelidade à famosa escola Bauhaus, de onde surgiram muitas das ideias sobre a arquitetura brutalista [Imagem: Reprodução/YouTube/Universal Pictures]

Relações

O filme tem como forte suas relações apresentadas. László, em diversos momentos, busca se reconectar com seu lar ao ir para missas judias e ao mandar cartas para a amada Erzsébet em busca de trazê-la para os Estados Unidos com sua sobrinha Zsófia (Raffey Cassidy).

Porém, a principal relação do longa é entre Van Buren e László, que é, em vários momentos, um jogo de poder. O arquiteto tem o controle e a experiência para mandar e desmandar no projeto, para que saia como deseja, mas não aceita críticas ou mudanças em seu trabalho, o que evidencia seu ego inflado. Já o empresário faz questão de mostrar sua autoridade com violência, ofensas e com sua riqueza. Isso também se estende ao resto da família Van Buren, que mais atrapalha László do que o ajuda.

O elenco do filme inclui um vencedor do Oscar: Adrien Brody, e dois indicados ao Oscar: Felicity Jones e Guy Pearce [Imagem: Divulgação/IMDB]

Erzsébet, por sua vez, é uma personalidade interessante ao se mostrar uma mulher fisicamente vulnerável, porém com uma personalidade forte. Após se reencontrar com o marido, ela demonstra uma dependência emocional nele, transformando momentos de carinho em situações desconfortáveis de um casal em crise.

Além das cartas trocadas que estabelecem a relação do casal principal, a direção optou por apresentar locais e conceitos de forma rápida, através de rádios e mini-documentários que contam objetivamente o que o público precisa saber. Mostrar como se deu a criação de Israel ou apresentar a Filadélfia são exemplos dessa estratégia, o que não deixa a impressão de ser um recurso fácil de roteiro para explicar todos esses cenários.

“Não importa o que os outros tentem te dizer, o que importa é o destino, não a jornada”

— Zsófia

A vista brutalista

Brady Corbet propõe uma experiência fora do comum, em que as 3h30 passam rápido graças ao seu trabalho de inserir o espectador na trama e nos cenários épicos, ao criar afeto por alguns personagens e ao despertar a curiosidade sobre qual rumo a trama irá tomar.

Algumas cenas que chamam a atenção para o trabalho do diretor são as que colocam o público no ponto de vista de um trem, carro ou pessoa para inserí-lo naquele mundo. Durante outros momentos, quem assiste é colocado atrás de László para seguí-lo, assim como sua história é seguida.

Com 3h34 minutos, este é o quinto filme mais longo indicado ao Oscar de Melhor Filme  [Imagem: Reprodução/YouTube/Universal Pictures]

A fotografia é um dos pontos altos de O Brutalista. Além de tornar tudo mais esteticamente bonito, é importante ao apresentar a discrepância entre o tamanho do ser humano e dos monumentos, prédios e da natureza, como quando os personagens escolhem o mármore que irão utilizar ou quando iniciam a principal construção mostrada na história. 

A trilha sonora de Daniel Blumberg é complementar, mas fundamental para harmonizar os sons, as atuações e os cenários. Overture (Ship) tem um ritmo bruto e experimental, por exemplo, e Erzsébet tem um ritmo calmo e reconfortante.

O filme também acerta ao focar no processo inteiro da construção que László foi contratado para desenvolver, ao invés de focar objetivamente em como seria o resultado final. No entanto, é ainda um maior acerto ao mostrar a vida dura de um refugiado e como decisões e ações impactam na vida dos personagens. De uma traição a uma obsessão, tudo tem consequências.

O filme foi rodado inteiramente em VistaVision, um formato widescreen que roda filmes de 35 mm, mas foi lançado nos cinemas com cópias em 70mm [Imagem: Reprodução/YouTube/Universal Pictures]

O longa encerra as 3h30 sem explicações para tudo e sem desfechos a todos personagens, mas eles não são necessários. Ao acompanhar um recorte da vida dos Toth’s, é entendido que nem eles buscavam saber o que houve com os outros personagens após tanto drama e luta.

O filme está disponível nos cinemas. Confira o trailer:

*Imagem de capa: Divulgação/Imdb

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