Os Brinquedos Mágicos (Tea Pets, 2017) é uma animação chinesa sobre bonecos infusores de chá. Eles são pequenas estatuetas de argila que ao se despejar chá, ganham novas tonalidades e cores, quanto mais intensa, mais valor tem o boneco. O protagonista, Nathan é uma dessas estatuetas, mas é debochado por seus amigos da loja por não conseguir ganhar nenhuma cor.

O nome original do filme é Tea Pets, muito mais fundamentado e original que a tradução para inglês, Pets & Toys, e para português, Os Brinquedos Mágicos, já que é o nome dessas peças de argila que mudam de cor, utilizados na cerimônia chinesa de chá com o nome de Gongfu Cha. Isso é explicado logo no início do filme, e já prendeu minha atenção e até me fez pesquisar mais sobre.
A primeira impressão que tive sobre o filme, é de que seria um Toy Story chinês em que os brinquedos são de argila. É divertido e atraente porém, o enredo é cheio de informações, com conflitos repentinos e desconexos da trama principal.
Um robô, que diz ser do futuro, aparece e faz com que Nathan deseje tentar encontrar uma solução para os seus problemas em uma outra época, embarcando numa grande aventura. Os objetivos dos dois não são consistentes, mudam a cada meia hora de filme e suas transições não são muito naturais. Em um momento estão atrás de viajar para o futuro, no outro, atrás do criador das estatuetas, e depois de salvar uma personagem secundária.
Ao longo da trama, Futurobô descobre que não é do futuro, e sim um protótipo que escapou de um laboratório por acidente. A explicação do filme para a personagem achar que é do futuro, ao meu ver, não faz sentido nenhum. Só por “estar 3 anos à frente da tecnologia atual” os cientistas colocam sua data interna 3 anos à frente, talvez fosse porque ele só seria lançado nessa data, mas ainda assim não seria muito coerente. Também existe a possibilidade de eu não ter sido capaz de entender, nesse caso uma criança também não entenderia!

Durante a aventura diversos conflitos e novos personagens secundários e terciários interessantes aparecem. Como é o caso dos ratos do esgoto, que aplicam golpes aos que passam por eles fingindo que estão precisando de ajuda, do porquinho de argila amigo de Nathan, que consegue tirar muitas risadas do público.
Por outro lado alguns personagens irrelevantes ganham tempo demais na tela. Por exemplo, o entregador de sorvete que lia um livro no banco de passageiro do caminhão de entregas. Com quase um minuto de cena, o personagem é introduzido só para escorregar e derrubar os sorvetes graças aos desastrosos protagonistas.
A personalidade de Nathan é bastante confusa. Às vezes ele é maduro e gentil, outras ele é bem arrogante e grosseiro. Ao mesmo tempo que se sente inferior por não trocar de cor, também se mostra como alguém confiante. Sua personalidade não é bem definida, assim como seu desenvolvimento ao longo da trama, que não é nada nítido, por isso, eu não saberia apontar o que aprendeu e mudou ao longo de sua aventura. Diferente de sua amizade com Futurobô, que é bem construída e mostra como trabalhar em grupo e ajudar amigos é importante.
Além de não ser um viajante do tempo, Futurobô também descobre que foi projetado para ser um robô doméstico, ou seja, tinha de seguir ordens. Por todo o longa, o fato de sempre ter que obedecer ordens gera diversos conflitos intrigantes, principalmente quando o vilão descobre isso. Diversos conceitos pertinentes são abordados sobre robótica e inteligência artificial, como aprendizado cognitivo de máquinas e o fato de serem projetados para servir humanos.
Raio, o vilão, chefe dos ratos, colecionador de peças raras e caras que roubava, tem uma personalidade bem definida: impotente, ostensivo e imperioso; e é muito bem apresentado, sendo citado desde a primeira cena do filme.
Ao final do filme, Futurobô consegue arrancar seu chip de comando de voz e o presente de Nathan no lugar, que além de fazer de com que o vilão não tenha como mandar nele, também simboliza como Futurobô aprendeu o conceito de amizade e de que é livre para ser e fazer o que quiser.
O filme é muito bonito, as animações, efeitos, design de personagens e cenários, são bem feitos. Ainda mais, pelo diferencial de ser um longa chinês, e por isso mostra alguns elementos visuais dessa cultura, como os próprios bonecos e a arquitetura dos ambientes que o filme se passa.
Apesar de ter um enredo um pouco confuso e tentar abordar temas demais Os Brinquedos Mágicos é um filme divertido e cômico. Com personagens bem desenhados e chamativos, com certeza vai entreter os pequenos, como pude perceber ao final da sessão. Além disso, ensina alguns conceitos e lições de vida sobre robótica, amizade, luto, trabalho em equipe, não confiar em estranhos, liberdade e que cada um pode ser muito mais. Não alcança as animações dos grandes estúdios como Pixar, Illumination e Dreamworks, mas demonstra que os estúdios chineses de animação tem potencial de entrar na concorrência.
O longa chega as telonas brasileiras no dia 22 de agosto. Confira o trailer: