Ricky Hiraoka
Oriundo dos videoclipes de artistas como Björk, Michel Gondry apareceu na cena cinematográfica como uma grande promessa para tornar o cinema mais original e criativo, mas sem perder o apelo comercial. Foi assim com o espetacular Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, resultado de uma parceria com o badalado Charles Kaufmann. Sua nova empreitada, Rebobine, por favor (Be Kind, Rewind) não tem a originalidade de Brilho Eterno, nem a vocação de se tornar um objeto da cultura pop. Porém, merece certa atenção.
Rebobine, Por Favor é simpático e deve interessar, sobretudo, aos cinéfilos de carteirinha. Explico: o enredo conta a história de dois atrapalhados funcionários de um decadente locadora (o careteiro Jack Black e o ótimo Mos Def) que ficam responsáveis por cuidar do negócio enquanto o patrão viaja. O grande problema é que Jerry Gerber (Jack Black) recebe uma descarga elétrica e desmagnetiza todas as fitas (sim, fitas e não, DVDs) do estabelecimento. Para tentar resolver a situação, a dupla de trapalhões decide refilmar as produções. Seguem então uma seqüência de cenas bem engraçadas que parodiam películas como Caça Fantasmas, King Kong e Conduzindo Miss Daisy. É muito divertido tentar adivinhar a cena de qual filme, Black e companhia tentar refazer.
Gondry consegue realizar uma comédia leve e inteligente, livre de escatologias ou malícia, características constantes nas produções humorísticas norte-americanas. Os remakes produzidos pelos personagens de Rebobine, Por Favor fazem uma referência bem humorada ao cinema independente que, assim como esses filmes, não tem a estrutura ou dinheiro das grandes produções, mas possuem um público fiel e interessado.
Apesar de ser uma obra menor, Rebobine, Por Favor é um daqueles filmes que conquista o espectador por seu enredo inocente, que, por vezes, beira o pastelão. Não há a mágica ou a inventividade de Brilho Eterno, mas quem disse que o escracho não tem seus fãs?