Por Isabella Lopes (isabella.tomaz.lopes@usp.br) e Louisa Harryman (louisacoelho@usp.br)
Confira os principais destaques do domingo (8), terceiro dia da Bienal do Livro:
Os influenciadores digitais Viih Tube, Eliezer e Pyong Lee marcaram presença na Bienal e subiram ao palco da Arena Cultural para uma conversa sobre a vida em família nos holofotes. No espaço “Cozinhando com Palavras”, os visitantes puderam ver receitas da saga Harry Potter e o lançamento do livro Florisbela – Receitas de amizade (Martins Fontes, 2024), de Bela Gil e Daniel Kondo.
Literatura brasileira além das fronteiras
A Arena Cultural também recebeu os escritores Itamar Vieira Jr, Stênio Gardel e a tradutora Flora Thomson-DeVeaux para uma palestra sobre a popularização da literatura brasileira no exterior. Mediada por Rayanna Pereira, coordenadora de relações internacionais da CBL, a conversa abordou temas como os fatores que atraem os estrangeiros pelas obras do Brasil, a relevância da tradução de livros da língua portuguesa e os desafios para uma tradução literária que cative o leitor.
Para Itamar, autor do livro Torto Arado (Todavia, 2019) e ganhador do Prêmio Jabuti 2020 de Romance Literário, uma das razões que explica o sucesso do romance na América é a sensação de identificação do leitor com o contexto histórico: “o livro sutilmente fala dos traumas da colonização e da escravidão, como ela perdura nos nossos dias, e isso é um tema comum ao continente”.
A tradutora de Memórias Póstumas de Brás Cubas (Tipografia Nacional, 1881) para o idioma inglês, Flora Thomson-DeVeaux, compartilhou com o público como foi a sua experiência de traduzir uma das maiores obras da literatura de língua portuguesa. Para ela, os principais desafios foram entender o contexto histórico em que a obra foi escrita e preservar a prosa do século 19.
Stênio Gardel, autor de A Palavra que Resta (Companhia das Letras, 2021), afirma que o seu livro aborda lutas que atravessam não só a história brasileira, mas também a humana, gerando a sensação de reconhecimento. “Quando eu vejo os leitores no Japão ou em outros lugares falarem sobre o meu livro, eu penso também no que me atrai na literatura estrangeira”, diz o escritor, reconhecido internacionalmente.
Uma conversa sobre suspense, romances policiais e manias
“Você sabe o tema que a gente escreve. Se você perguntar, teremos que te matar no final”, disse o autor Raphael Montes ao abrir sua palestra sobre suspense e literatura policial. Mediado por Tito Prates, presidente da Associação Brasileira dos Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror (ABERST), o bate-papo também contou com a participação de Cláudia Lemes e Victor Bonini.
Técnicas de escrita, o fenômeno do Jack in the box – situação em que o personagem ou as cenas tomam um caminho que não era o planejado –, ambientação e críticas sociais foram assuntos debatidos pelos artistas.
Raphael Montes é romancista e roteirista, criador de Suicidas (Companhia das Letras, 2017), Dias Perfeitos (Companhia das Letras, 2014) e Uma mulher no escuro (Companhia das Letras, 2019). O ganhador do Prêmio Jabuti 2020 acredita que o leitor deve conhecer os personagens dos livros como um amigo ou conhecido. Seu maior objetivo é se aproximar do público por meio da ambientação brasileira em suas obras.
“A literatura é a mais profunda [arte] em relação à conexão com o leitor. A gente conta a história junto com ele.”
– Raphael Montes
A escritora Claudia Lemes possui doze publicações de thrillers ao longo de sua carreira, além do Prêmio ABERST em 2022, com a obra Quando os mortos falam (AVEC Editora, 2021). Claudia também é professora de escrita criativa, fato que atravessa suas produções: “Às vezes eu faço listas de compras para os personagens”.
Victor Bonin é escritor, roteirista, jornalista e ganhador de um prêmio da ABERST com o livro O casamento (Faro Editorial, 2017). A formação voltada ao gênero factual da comunicação contribuiu para o desenvolvimento de seu estilo de “documentário falso”, explicado por ele como uma forma de contar os acontecimentos da história no estilo jornalístico: “Pela minha formação, eu gosto que as pessoas reajam da forma mais próxima da realidade possível”.
A Bienal sob o olhar de um frequentador
A Bienal do Livro é um espaço de criação de memórias. Caio da Silva Viana, 26 anos, marca presença no evento desde o fim do seu Ensino Fundamental. Sua primeira ida foi em um pequeno passeio escolar, com alguns amigos fãs de literatura.
Para Caio, ir à Bienal era sinônimo de explorar os estandes de grandes livrarias. Nos últimos anos, com a falência de grandes empresas do ramo, como a Saraiva e a Cultura, a busca pelas obras de interesse do público passou a ser feita diretamente por meio das as editoras. Além disso, o leitor notou que grande parte dos objetos interativos, como o Trono de Ferro de As Crônicas de Gelo e Fogo (Bantam Spectra, 1996-presente) de uma edição anterior, deu lugar às paredes instagramáveis no evento.
“A Bienal é um espaço de conforto. Eu levo minha família e meus amigos até lá”, ressaltou o fã. Um fato marcante para ele foi a vinda de Cassandra Clare, autora da série Os Instrumentos Mortais (Simon & Schuster, 2007-2014) na edição de 2014 e a dificuldade de uma amiga em conseguir o seu autógrafo. Caio contou que já irá começar os preparativos para a 28ª celebração da literatura em São Paulo, que ocorrerá em 2026.
Adorei a reportagem, me senti dentro da Bienal com as imagens e o texto publicado.
Parabéns aos envolvidos direta e indiretamente!