Muitos medos humanos estão relacionados à morte. Temos medo de morrer porque, apesar disso ser uma certeza para nós, não sabemos exatamente o que vem depois e nem como, onde ou quando acontecerá. Se você pudesse, gostaria de saber qual será o momento exato de sua morte? Apenas saber, sem poder mudar nada? Essa é a principal reflexão trazida pelo filme A Hora da Sua Morte (Countdown, 2019), que, apesar de trazer vários clichês, surpreende entregando um enredo coerente que vai além dos sustos.
A história começa em uma típica festa adolescente americana, em que um grupo de amigos acidentalmente se depara com um aplicativo de celular que promete prever a hora exata da morte de cada um. Como brincadeira, todos decidem baixá-lo, e, assim, descobrem que Courtney (Anne Winters), uma menina do grupo, tem apenas mais algumas horas de vida. Ela parece preocupada, mas como todos levam aquilo na brincadeira, esquece o aplicativo por alguns momentos.
Saindo da festa, Courtney, que pegaria carona com o namorado Evan (Dillon Lane), decide ir a pé para casa, pois ele está bêbado. Exatamente no horário previsto pelo aplicativo, dois fatos estranhos acontecem simultaneamente: a menina morre em sua casa e seu namorado sofre um terrível acidente de carro. Ele percebe que, durante o acidente, uma árvore havia perfurado o banco do passageiro, e se a garota tivesse embarcado com ele, com certeza estaria morta.

Algum tempo se passa, e Evan está no hospital, depois de ter sofrido o acidente. O rapaz baixou o aplicativo, que mostra que ele irá morrer durante a cirurgia que espera para fazer. Evan divide suas angústias com Quinn (Elizabeth Lail), uma de suas enfermeiras, que comenta sobre o assunto com os demais funcionários do hospital. Mais uma vez, todos decidem baixar o aplicativo como brincadeira, mas Quinn descobre que tem apenas dois dias de vida.
A partir desse momento, coisas estranhas começam a acontecer e Quinn vai em busca de explicações. É dessa forma que encontra Matt (Jordan Calloway), um rapaz que tem quase o mesmo tempo de vida que ela e, juntos, eles tentam encontrar uma maneira de evitar suas mortes precoces, lutando contra os destinos traçados pelo aplicativo.
No início, o longa passa a impressão de ser mais um terror esquecível. A primeira cena traz atuações não muito boas e personagens adolescentes que poderiam pertencer a absolutamente qualquer filme americano. Os efeitos visuais também são um pouco toscos em alguns momentos, a ponto de arrancarem risadas, e os sustos predominam, dando a entender que o filme não passará disso.
Porém, ao longo da trama, tudo vai se encaixando e o espectador começa a entender o porquê de cada circunstância e acontecimento. O desenvolvimento da história é feito de maneira genial, com o mistério sendo revelado pouco a pouco. Isso permite que o espectador também participe da solução do problema principal, mas sem restar dúvidas no fim, pois tudo é explicado durante o filme.

Outro fato que prova a genialidade do enredo é que não existem elementos decorativos na história. Nada está ali por acaso e todas as peças são utilizadas para solucionar o problema, sem faltar ou sobrar. A profissão de Quinn como enfermeira e dedicação ao trabalho, sua distância com a família, a morte de sua mãe, o assédio que ela sofre de um superior, seu encontro com Matt, tudo tem uma razão de ser, deixando as coisas ainda mais interessantes e a história ainda mais original.
Já a construção do terror no filme conta sim com algumas situações clichês, daquelas que nos fazem ter ódio dos personagens por serem tão tontos, mas também com situações amedrontadoras e originais. Exemplo disso é a cena em que Quinn está deitada em sua cama com Matt e descobre que ele não está na cama. Quem está lá, então?
A tensão está presente o tempo todo, principalmente pela quantidade de sustos que acontecem, deixando os espectadores bem atentos. No entanto, talvez isso funcionasse melhor sem tantos sons dramáticos clichês que compõem a sonoplastia, e que, assim como alguns dos efeitos visuais, podem fazer os espectadores rirem.
Outra coisa que pode trazer mais humor à sala de cinema são os alívios cômicos. Contando com diálogos tão geniais quanto o restante do enredo, mostram-se um ponto forte na trama, mostrando que nem somente de medo vive um bom filme de terror. Os dois maiores responsáveis por essa parte da história são: Padre John, um padre descolado, tatuado e muito interessado no estudo das forças do mal, e Derek, hacker e dono de uma pequena loja de eletrônicos que aparece no caminho de Quinn quando ela compra um novo celular, no intuito de se livrar do aplicativo.
Ao final de tudo, o filme ainda traz uma nova surpresa à mente do espectador, deixando-o curioso e com um gostinho de quero mais, que talvez seja saciado em uma continuação. Suficientemente original, A Hora da Sua Morte talvez não seja o terror do ano, mas cumpre até um pouco mais do que promete e pode surpreender aqueles que só esperavam levar uns sustinhos no cinema, mostrando que não veio para dar ponto sem nó.
A estreia do longa no Brasil está prevista para o dia 27 de fevereiro. Confira o trailer: