A dinâmica da refeição na Cidade Universitária e as alternativas para se alimentar no campus.
Por Thiago Quadros (thiagoquadrosm@gmail.com)
Para abrigar os quase 50 mil alunos de graduação e pós-graduação que circulam pela Cidade Universitária, e para produzir quase 15 mil trabalhos científicos por ano, a Universidade precisa de combustível. Seja eles os 2,5 bilhões de reais, ou a alimentação para o dia a dia dos que frequentam o campus.
A Universidade de São Paulo oferece diversas opções oficiais. Os restaurantes subsidiados, popularmente conhecidos como bandejões, servem, só no campus Butantã, mais de dois milhões de refeições por ano. Todas elas a R$1,90.

Além disso, existem diversas lanchonetes e restaurantes espalhados pela Cidade Universitária. O mais famoso, e talvez infame deles, é o Sweden. Localizado ao lado da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), o restaurante serve refeições de alto padrão em self-service. O ambiente luxuoso e o preço atraem mais professores e pesquisadores, já que poucos alunos têm condições de bancar os R$45/kg da refeição.
Alternativas de alimentação
Existem outras opções mais em conta pelo campus. Mesmo assim, muitos alunos acabam recorrendo ao comércio informal de alimentos.
Seja pelo preço, pelo sabor, ou também pela falta de tempo para uma refeição completa, os comerciantes informais possuem grande mercado, principalmente entre os alunos. Os alimentos vendidos incluem sanduíches, tapioca, milho, hot-dog, batata frita e milho-verde. Até bebidas alcoólicas como cerveja e vinho quente, cuja comercialização e consumo no campus são proibidos, são vendidos pelos ambulantes.
O principal polo de vendedores informais no campus Butantã são os chamados trailers, na Escola de Comunicações e Artes. Os quatro trailers do local atraem alunos de todas as regiões do campus, da própria ECA até alunos da Escola Politécnica, por exemplo, que fica há dois quilômetros da ECA.

Os trailers constituem um mercado complexo. Dois deles vendem os mesmos produtos (pastéis e lanches na baguete) por preços diferentes. Lado a lado. Além disso, há diversas figuras conhecidas, tanto quanto pelos seus produtos, tanto pela personalidade.
Uma delas é Elias, vendedor ambulante na ECA desde 1985. Famoso pelas técnicas de propaganda inusitadas, como seu bordão “milhão, milhão”. Elias vende coco gelado, milho verde, e também vinho quente, dependendo das condições do tempo no dia. Recentemente, o comerciante teve uma surpresa: outro vendedor de coco decidiu se estabelecer ao seu lado. “Tive que baixar o coco de R$3,50 pra R$3,00. É a concorrência, né?”
A comerciante Dona Hermínia é proprietária de uma lanchonete alocada e licitada na vivência da ECA. Sua lanchonete já passou por três diferentes lugares do campus em 20 anos. “Acho a concorrência desleal”, diz ela. “Desde sempre pago aluguel aos estudantes, todos os meus funcionários são registrados, pago todos os meus impostos. Então às vezes acabo tendo que aumentar os preços. Mesmo assim, minha margem de lucro é muito menor”, continua. “As pessoas acham que eu saio todo dia daqui com um saco de dinheiro”.
A lanchonete de Hermínia sofre não só com os comerciantes informais que se localizam ao seu lado, mas também com uma lanchonete no chamado Quadrado das Artes da ECA, ao lado do Departamento de Artes Cênicas (CAC). A lanchonete, popularmente conhecida como “Carol Carina”, oferece preços menores.
Outro inusitado tipo de comércio informal se estabeleceu na Cidade Universitária. O formato, conhecido como “mesa de doces”, consiste em uma mesa em que alunos colocam doces e quitutes produzidos por eles à venda. A venda é realizada de forma completamente independente: os doces não são vigiados, e o pagamento é feito depositando-se o dinheiro em um cofre indicado. As mesas de doces mais conhecidas são as da FEA-USP e também da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP), e ambas já tiveram problemas em sua organização. No entanto, o formato ainda persiste, e muitos estudantes ainda complementam sua renda através das mesas.

A estudante da ECA Stella Bonici, no entanto, reclama da má utilização da mesa de doces, especificamente a da FEA. “Alguns estudantes compram doces industrializados em atacado e colocam à venda na mesa”, afirma. “Acho isso de má fé”.
O comércio informal, no entanto, tem seus problemas. Por não ser regulamentado, acaba trazendo uma série de riscos ao consumidor, principalmente de higiene e saúde. Apesar de tomar algumas precauções, os comerciantes acabam sujeitos às condições precárias das instalações e também à grande demanda e necessidade de preços baixos.
João César Dias, estudante do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG), afirma se preocupar com as condições de higiene dos chamados trailers. “Eu não como no trailer da tapioca, por exemplo, porque ouvi várias histórias de descaso deles com a higiene. Inclusive que eles passam inseticida no chão do trailer todas as noites”.
Apesar disso, o mercado informal de alimentos na Cidade Universitária parece atrair cada vez mais comerciantes e também consumidores. E parece que não vai diminuir tão cedo.