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Avistar: o papel dos birdwatchers na conservação ambiental

18º edição do evento reuniu observadores de pássaros de todo o Brasil para passarinhar no Jardim Botânico
Por Natália Stucki (nataliastucki@usp.br)

Entre os dias 16,17 e 18 de maio cerca de 12 mil observadores de pássaros puderam desfrutar de um evento totalmente pensado para eles. O 18° Avistar, mais importante encontro desse tipo na América Latina, ocorreu no Jardim Botânico da cidade de São Paulo, e recebeu expositores, congressistas e visitantes de todo o Brasil e do exterior.

Desde sua primeira edição em 2006, o evento reúne os birdwatchers anualmente, de forma gratuita. Entre as atrações estão exposições, palestras, venda de produtos, lançamento de livros, apresentações de pôsteres e oficinas para crianças – o AvistarKIDS. O principal objetivo é celebrar as aves e a natureza, bem como alertar para a necessidade de sua conservação.

Para Bolivar Porto, da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul, “o Avistar é uma feira de observadores para observadores”. Há muitos encontros de fotógrafos, influenciadores da área e “passarinheiros”, acima de tudo. Além disso, o evento representa uma grande oportunidade de formar parcerias, promover negócios e, principalmente, expor projetos de preservação da avifauna.

Visitantes no corredor de exposições na sexta-feira (16)
[Imagem: Acervo pessoal/Natália Stucki]

Conservar para observar

Segundo Karina Linhares, representante da ONG (Organização Não Governamental) Aquasis, do Ceará, o Avistar permite conhecer outros projetos inspiradores, assim como fazer a articulação dos bastidores: “aqui a gente já conseguiu vários contatos importantes para o nosso trabalho de conservação”. Ela conta que sua equipe vem de carro até São Paulo para participar da feira desde a 3º edição. Neste ano, eles divulgaram os projetos de preservação do soldadinho-do-araripe e do periquito cara-suja, duas espécies cearences ameaçadas de extinção.

Karina ainda comenta que, no início, havia apenas 100 caras-suja, mas após 10 anos de atuação, o número de indivíduos subiu para quase 1200. Já os soldadinhos-do-araripe, redescobertos apenas em 1996 pelo pesquisador Weber Girão, quando se acreditava que já estavam extintos, passaram de 100 para 1300 indivíduos na natureza durante o período de atuação da ONG.

Espécie era considerada extinta 29 anos atrás
 [Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons]

Em meio a uma programação extensa de palestras, que ocorreram simultaneamente em cinco auditórios, foram apresentadas outras iniciativas de conservação. Um deles foi o projeto bigodinho, um estudo de ecologia comportamental desenvolvido pela UFV (Universidade Federal de Viçosa) e a WUR (Wageningen University & Research), na Holanda. O objetivo do estudo, um dos principais no Brasil, é coletar dados dessa ave para entender o comportamento de outras aves tropicais e ajudar a preservá-las. 

Outra iniciativa, da rolinha-do-planalto, foi apresentada pela SAVE Brasil, e busca proteger a espécie e seu habitat. O projeto envolveu a compra de um terreno de 593 hectares no município de Botumirim, no norte de Minas Gerais, em 2015, pois uma espécie muito rara havia sido redescoberta – a rolinha-do-planalto. Hoje, a reserva protege não só essa ave, mas toda a biodiversidade presente na área, incluindo outras espécies ameaçadas.

A rolinha-do-planalto também era considerada extinta 10 anos atrás
 [Imagem: Acervo pessoal/Natália Stucki]

No estande da Secretaria de Turismo de São Paulo, Luiz Baqueiro, que representava o Jardim Botânico Araribá, do município de Amparo, divulgava o projeto de restauração da Mata Atlântica na RPPN (Reserva Particular de Patrimônio Natural) Duas Cachoeiras. Luiz comenta que na reserva, que antes era uma área desmatada, são desenvolvidos programas de monitoramento de fauna e flora e educação ambiental.

“Era uma área de plantio de café, tinha gado também. Então a restauração dessa área começou tirando tudo isso e plantando árvores”, diz. A partir de então, começou-se a observar como a fauna estava sendo atraída para aquela região e ajudava na restauração ecológica, em especial das aves.

C. Loren Buck explica as ameaças humanas à biodiversidade
[Imagem: Acervo Pessoal/Natália Stucki]

O maior destaque do evento foi a Premiere Internacional da peça Decibel_271, na sexta-feira (16). A composição de Alexander Liebermann, em colaboração com o pesquisador C. Loren Buck, retrata a vida de uma fêmea da baleia-da-groenlândia. Na peça, cada segundo representa um ano de sua vida – que durou impressionantes 271 anos!  

Apesar de bastante diferente dos pássaros, a história de vida dessa baleia é um alerta para os impactos da ação humana sobre as espécies. Segundo o compositor, foram incorporados na peça os ruídos dos Baleeiros Ianques, caçadores de baleias do século XIX que quase levaram a espécie à extinção, e a poluição sonora subaquática causada por humanos — que intensificou-se  após a Segunda Revolução Industrial e prejudica a ecolocalização.

Observar para conservar

Passarinhar como um ato de conservação
[Imagem: Acervo pessoal/Natália Stucki]

A jovem de 10 anos, Cecília Monteiro, já gosta de passarinhar desde os 7 anos, e escreveu e ilustrou um livro sobre as aves que via no caminho para a escola. Seu pai, Fábio, conta que ele e a esposa ajudaram a estimular desde cedo a prática de passarinhar, levando-na em trilhas. Ao se mudar para o Mato Grosso do Sul, ele despertou seu encanto pelas aves, e agora acredita ser importante passá-lo para a próxima geração. 

Em uma era de biodiversidade em risco devido às ações antrópicas, observar pássaros é um respiro. No evento, houve mais do que entusiastas com câmeras, mas pessoas realmente apaixonadas pela conexão com a natureza e com outras pessoas que as aves proporcionam. 

*Imagem de capa: Arquivo pessoal/Natália Stucki

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