Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

‘Back to Black’: A consagração e o adeus de Amy Winehouse

Os dez anos da morte precoce de Amy Winehouse confirmam a atemporalidade não só da cantora, mas também do álbum que a consagrou, e consagra, como uma ídola

Há dez anos, o “Clube dos 27”, lenda de famosos artistas que faleceram nessa idade, recebia mais uma estrela: era a vez de Amy Winehouse, que deixava para trás uma carreira pequena quando comparada ao talento da cantora britânica. 

Em seu segundo e último álbum de estúdio, Winehouse deixa claro o momento que estava vivendo, de retorno à escuridão. A referência está explícita desde o título do álbum, Back to Black em inglês. As onze melodias, que começaram a ser lançadas em 2006, mas com acréscimos em versões posteriores até 2008, apresentam a cantora em sua forma mais crua e abordam o vício em álcool e em drogas, além de um relacionamento amoroso conturbado.

O tom autodepreciativo e provocador é perceptível na maioria das músicas, mas, por baixo de toda a afirmativa de que não precisa de nada, é possível sentir a sensibilidade e a emoção de Amy, uma mulher bem sucedida que precisava de ajuda

 

Amy Winehouse: mulher branca, de cabelos pretos, deitada com apenas a parte superior do tronco visível, contra um fundo preto
Capa do álbum na versão norte-americana, que já vendeu mais de três milhões de cópias nos Estados Unidos. (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)


Com misturas de R&B, jazz e de ritmos jamaicanos, como o reggae — observado principalmente na faixa Just Friends — o álbum encantou a crítica especializada e rapidamente tomou conta das paradas de sucesso. Considerado o álbum do ano em 2007, acumulou cinco Grammys para a cantora e emplacou na sétima posição da Billboard 200. 

Back to Black é iniciado com Rehab, single que, além de atrair a atenção de quem ouve, é uma carta aberta da cantora para a família, amigos e público — ela não irá para a reabilitação. A mensagem transmitida nitidamente pela música expressa a luta contra a dependência alcoólica de Amy, reforçada pelo término com o ex-namorado. O próprio término culmina em outras melodias, principalmente a que carrega o nome do disco. 

O refrão conhecido mundialmente e popular até os dias de hoje é difícil de esquecer: “Estão tentando me levar para a reabilitação, mas digo que não”. Em consonância à força de Winehouse em se posicionar e ao ritmo envolvente do jazz, é possível sentir quase uma provocação da cantora, que desafia as ordens dadas mas também reconhece que precisa de apoio.    

 

 I don’t ever want to drink again
I just, ooh I just need a friend

(Eu não quero nunca mais beber de novo
Eu só, ooh, eu só preciso de um amigo 

— trecho de Rehab, de Amy Winehouse)

 

Por outro lado, em You Know I’m No Good, segundo single do álbum, Amy passa à autodepreciação e demonstra como se coloca em segundo plano por alguém.  

 

I cheated myself
Like I knew I would
I told you I was trouble
You know that I’m no good

(Eu traí a mim mesma
Assim como eu sabia que iria
Eu te disse que eu era problema
Você sabe que eu não sou boa

 — trecho de You Know I’m No Good)


Mas é só em 
Me and Mrs. Jones que as temáticas amorosas são trazidas explicitamente ao centro da música e a postura da cantora, antes de renegação, transforma-se em defesa contra qualquer um que tente separá-la do amado. A linha já tênue entre o ódio e o amor, o ídolo e aquele “que deve se afastar”, torna-se difusa e é quase impossível separá-los.

 


Já em
Tears Dry On Their Own, há uma nova versão da britânica, que mesmo expondo o relacionamento difícil, se permite admitir que deveria seguir em frente e se esquecer dele. 


I cannot play myself again
I should just be my own best friend
Not fuck myself in the head with stupid men

(Eu não posso cair nessa de novo
Eu deveria ser minha melhor amiga
E não acabar com minha cabeça com homens idiotas

Trecho de Tears Dry On Their Own

Back to Black traz nitidamente diversos pontos difíceis e delicados para Amy Winehouse e, em Wake up Alone, canção não tão comentada pela mídia, é possível notar uma forte dependência emocional em relação a um romace, assim como em Some Unholy War. Em ambas, a guerra interna entre o amor e ódio tem um vencedor.

 

Amy Winehouse: foto de rosto da cantora, mulher branca, de cabelos pretos, olhos castanhos e batom de cor clara, com blusa preta
Amy Winehouse, em foto promocional de “Back to Black” (2006), um dos álbuns mais vendidos no Reino Unido no século 21. [Imagem: Reprodução/EncartesPop]


Durante todo o álbum, a sensação é ambígua: ao mesmo tempo que as melodias são extremamente envolventes e os instrumentais com o jazz e com o reggae fazem uma mágica hipnotizante, a dor e a emoção na voz da cantora são claras, o que dá um toque mórbido, triste e até mesmo um pouco sádico. É uma obra-prima das mais trágicas, que deixaria Sófocles com inveja.

O sentimento final é de admiração, mas também de revolta. Não existem meios possíveis de ouvir esse álbum sem perceber que ele é também um pedido de ajuda. A arte e a dor quase sempre andam juntas e dói comemorar os dez anos de morte de uma grande cantora que infelizmente só deixou dois álbuns, mesmo que eles consigam representar muito bem o talento extraordinário da britânica que convivia com mais demônios do que se pode imaginar.

 

*Imagem de capa: Maria Vitória Faria/Jornalismo Júnior

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima