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83% da biodiversidade da Floresta Nacional dos Carajás é crucial para a sua resiliência

Unindo modelagem de dados e pesquisa de campo, estudo feito pelo ITVDS mediu o capital natural da Flona dos Carajás
Por Débora van Pütten (deboravp@usp.br)

Um estudo conduzido por pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável (ITVDS) revelou que 83% das espécies encontradas na Floresta Nacional (Flona) dos Carajás, no Pará são cruciais para a manter a diversidade funcional da flona. Dentre esse percentual, 60% são espécies insubstituíveis — ou seja, caso extintas, nenhum outro animal ou planta ofereceria o mesmo serviço que elas para aquele ambiente.

Pássaros, insetos e plantas são indispensáveis para os ecossistemas que compõem. Cada um deles exerce funções específicas, que geram consequências tanto para o meio ambiente quanto para as pessoas.

O trabalho ressalta que aquilo que a natureza oferece para os seres humanos, potencialmente traduzido em valor socioeconômico, é chamado de serviço ecossistêmico. Por outro lado, o que é oferecido pela natureza e tem papel na sua própria sobrevivência é chamado de função ecossistêmica. 

Os cientistas estudaram cinco elementos associados a serviços ecossistêmicos e cinco vinculados a funções ecossistêmicas. O objetivo foi calcular o capital natural de parte protegida da floresta amazônica que continha vegetação primária.

elementos para a biodiversidade dos carajás
10 elementos para a avaliação do capital natural da Flona dos Carajás. [Imagem: Reprodução do artigo]

Em azul, aqueles associados às funções ecossistêmicas: riqueza de espécies, interação entre espécies, resiliência, insubstituibilidade e espécies ameaçadas. Em rosa, os cinco associados à serviços: polinização de culturas, regulação climática, proteção da água, armazenamento de carbono e uso de árvores por pessoas.

“Capital natural é o estoque de recursos naturais. O termo funciona como uma contraposição ambiental para o termo capital econômico”, explica Tereza Giannini, umas das pesquisadoras envolvidas no projeto. A quantificação do capital natural de uma parte da floresta tropical amazônica é fundamental para a preservação da natureza. De acordo com Giannini, deve-se conhecer os processos naturais para protegê-los.

“Sem proteção à natureza, o bem-estar humano é impactado negativamente”

Tereza Giannini

O estudo reúne duas metodologias: pesquisas de campo e simulações computacionais. As pesquisas de campo permitem que os cientistas acessem a biodiversidade local. No total, foram registradas 885 ocorrências, sendo 467 espécies de animais e 418 de plantas. Em valores exatos de riqueza da fauna, foram encontradas 122 espécies de abelhas, 292 de pássaros e 53 de borboletas frugívoras (cuja alimentação é principalmente composta por frutas). 

borboleta da floresta dos carajás
Uma surpresa para os pesquisadores foi o registro de uma nova ocorrência de uma espécie de borboleta, a Amphidecta calliomma
[Imagem: Charles J. Sharp/Wikimedia Commons]

Sobre as plantas lenhosas, 42% é utilizado por populações tradicionais para pelo menos uma atividade. Como exemplos de atividades, Giannini menciona alimentação, uso medicinal, uso ornamental; e produção de carvão, celulose, corantes e essências aromáticas.

Já os recursos computacionais permitem que os pesquisadores simulem os efeitos da perda das espécies no funcionamento do ecossistema, reforçando a necessidade de preservação de espécimes. 

. As características do clima das áreas protegidas na região do Carajás e as mudanças na evapotranspiração dependem dos níveis de desmatamento.

As simulações demonstram que a retirada de árvores levaria ao aumento da temperatura local, a uma diminuição da evapotranspiração e ao agravamento de enchentes em áreas desmatadas. 

Impactos e futuro da pesquisa

O trabalho realizado pelos pesquisadores do ITVDS é a primeira avaliação do capital natural de uma floresta na Amazônia.Segundo Tereza Giannini, ele mostra a importância de se identificar e se preservar os ativos críticos do capital natural, visto que eles se relacionam diretamente com os benefícios que a floresta traz para o bem-estar humano.

O artigo também expõe que  estudar a biodiversidade de um local habitado por diferentes populações pode contribuir para maior participação dos indivíduos na ciência“A valoração do capital natural pode ser feita através da avaliação da percepção das pessoas acerca desse valor e essa avaliação seria um passo futuro do projeto”, diz Giannini. 

A cientista conclui que buscar conhecer o capital natural de um ecossistema, seja na Amazônia ou em outro bioma, abre portas para a estruturação de políticas públicas associadas à conservação da floresta e à educação ambiental.

*Imagem da capa: Estúdio Anderson Mello/Wikimedia Commons

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