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Círculo de Fogo: A Revolta (fica por parte dos fãs)

Já próximo de uma hora de filme, Círculo de Fogo: A Revolta (Pacific Rim: Uprising, 2018) costura uma sucessão de acontecimentos que, senão dispersos, servem como síntese dos problemas do longa: o automatismo do roteiro. Em uma cena que começa com alguns coadjuvantes tirando sarro uns dos outros, a rixa de dois deles logo transforma …

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Já próximo de uma hora de filme, Círculo de Fogo: A Revolta (Pacific Rim: Uprising, 2018) costura uma sucessão de acontecimentos que, senão dispersos, servem como síntese dos problemas do longa: o automatismo do roteiro. Em uma cena que começa com alguns coadjuvantes tirando sarro uns dos outros, a rixa de dois deles logo transforma a chacota em briga. Daí em diante, em questão de minutos, o comandante deles os surpreende e dá uma lição de moral. O protagonista do filme também, por acaso, chega logo atrás, sensibilizado pelas palavras do primeiro. E não suficiente, uma terceira mulher corta o momento para informá-los de uma nova descoberta, que os leva para uma região gélida do planeta. Que, por fim, inicia um combate destrutivo logo que pisam na neve.

Se você já se perdeu nessa descrição, saiba que o volume de ideias que o filme trabalha em curtos espaços de tempo vai daí a pior. O problema aqui nem são informações que ficam inacabadas, mas sim a total descrença de que algo possa dar errado. Nem temos tempo de digerir que um conflito foi “resolvido”, que logo três outros já se delineiam.

Círculo de Fogo
[Divulgação]
Este que agora é o segundo de uma provável franquia – esperem por um gancho no final –, fez muito sucesso em 2013 quando Guillermo del Toro dirigiria Círculo de Fogo (Pacific Rim, 2013). Lá, apesar de também derrapar em soluções deus ex machina (com a já largamente questionada espada que surgia do nada), del Toro criava um mundo repleto de personagens motivados e cativantes, além de, é claro, entender a importância de que o espectador respire de uma cena mais eletrizante para outra. Ou seja, suspender a tensão não para que ela mingue, e sim para que se mantenha constantemente renovada.

Pensando nisso, é triste perceber que as únicas lembranças que nos remetem ao primeiro filme sejam das descrições expositivas, colocadas aí claramente para os que não assistiram à primeira aventura. Caso você, leitor, venha algum dia a escrever o roteiro de um filme, faça o seguinte exercício: releia o texto após terminado. Toda vez que algum personagem disser “você se lembra quando…”, corte! Porque se o espectador não se lembrava disso, você provavelmente não desenvolveu isso bem lá atrás.

Outro problema são as personagens. Se no primeiro filme tínhamos uma mulher como Mako (Rinko Kikuchi), que convertia sua dor silenciosa (e perceba como a interpretação dela também prezava pelo comedido) em uma violência furiosa, aqui todas as personagens são exatamente o que mostram que sentem. Quando não, temos uma contradição que não se justifica: um herói canastrão na melhor escola Indiana Jones, a ponto de se atrapalhar em agarrar um oponente. Mas aí na cena seguinte, ele está desferindo os golpes mais cirúrgicos possíveis, para voltar a ser bonachão adiante. A sensação que fica é a de que o protagonista tem múltiplos temperamentos, e nenhum também. Não digo que Indy não fosse imbatível, mas que a virtude de Harrison Ford era justamente mostrar que a vitória não tinha sido fácil.

Círculo de Fogo
[Divulgação]
Aqui, quando no pior dos apuros, sempre há uma ajuda tão inesperada quanto o problema que a motivou. O maior exemplo disso são todas as vezes em que alguém que já parecia ter ido para o ralo voltar para salvar algum colega. Antes fosse só uma espada…

No meio disso tudo, o roteiro ainda trata de plantar uma tensão sexual que, adivinhem, é descartada por outros três conflitos que surgem de repente… mas fazer o quê? Pelo menos as cenas de ação fazem jus ao filme original. E aqui, é importante lembrar da série Transformers (2007-17) que, além de cometer vários dos erros aqui citados, ainda emprega uma gramática visual confusa, tomada pelas câmeras tremidas e cortes ininterruptos. Em Círculo de Fogo: A Revolta, o diretor Steven S. DeKnight e seu diretor de fotografia Dam Mindel preferem planos mais distantes que mostram os combates do ponto de vista de um observador quieto no seu canto, o que faz as cenas serem muito mais claras e intensas. Uma pena que todo resto se perca justamente por almejar ser intenso demais.

Círculo de Fogo: A Revolta estreia dia 22 de março nos cinemas. Assista ao trailer:

por Natan Novelli Tu
natunovelli@gmail.com

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