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Copa do Mundo de Clubes 2025 | Do Maracanã a Nova York, as arquibancadas ecoarão ‘Nense!’

Reforçado, Fluminense disputa o “Super” Mundial de Clubes e sonha com vaga ao mata-mata

Por Arthur Souza (thursouzs07@usp.br)

A conquista do título da CONMEBOL Libertadores em 2023, além de inaugurar a sala de taças internacionais do clube, garantiu a participação do Fluminense na Copa do Mundo de Clubes da FIFA. Desde aquela noite no Rio, quando o gol de John Kennedy na prorrogação contra o Boca Juniors desatou o grito de campeão sul-americano das gargantas tricolores, o Flu entrou em uma sucessão de novelas: desentendimentos entre elenco e treinadores, desfalques no plantel e uma briga até a última rodada contra o rebaixamento. 

Em 2025, o tricolor das Laranjeiras segue em recuperação após o susto da temporada passada. O início de trabalho do treinador Renato Portaluppi no clube é promissor. Os desempenhos e resultados acumulados nos últimos meses alimentam esperanças de que o time seja potência secundária no Grupo F da Copa do Mundo de Clubes e alcance as oitavas de final na competição. 

“Louco da cabeça”: a fase pós-Diniz

Em 24 de junho de 2024, o Fluminense anunciou o desligamento de Fernando Diniz. Uma sequência de quatro jogos sem vencer desgastou a imagem do técnico e a percepção da torcida acerca de seu rendimento. A desaprovação se acirrou após a derrota por 1 a 0 no clássico contra o Flamengo, estopim para a demissão do treinador. Apesar do aproveitamento medíocre – cerca de 58% em 72 partidas – Diniz deixou um grande legado. A passagem do técnico no Fluminense foi marcada por dois títulos estaduais, vencidos sobre o Flamengo, a taça inédita da Libertadores e uma Recopa Sulamericana, arrancada das mãos da LDU de Quito, o troco por 2008 e 2009. 

Mano Menezes assumiu o comando técnico do clube após a saída de Diniz. O treinador, que vinha de passagem breve e desastrosa pelo Corinthians, assumiu o cargo quando o tricolor ocupava a vigésima colocação do Brasileirão, mas bastaram seis jogos para que conseguisse afastar o time da zona de rebaixamento, ao menos momentaneamente. Ao longo da temporada, o tricolor foi eliminado nas copas e não conseguiu se desvencilhar completamente do Z4. 

O fim de campeonato do Fluminense foi marcado pela polêmica discussão entre Marcelo e Mano Menezes, em empate com o Grêmio na trigésima segunda rodada. Na ocasião, o treinador preparava substituições quando se envolveu em um bate-boca com o lateral-esquerdo, que estava prestes a entrar em campo, e abortou a troca. O episódio tornou público um conflito que parecia ser cultivado dentro do vestiário desde a chegada do novo técnico, uma vez que o lateral, ídolo e peça-chave na conquista da Copa Libertadores no ano anterior, havia perdido a titularidade sob o comando de Mano. No dia seguinte ao caso, Marcelo e a diretoria tricolor acertaram a rescisão de contrato e, meses depois, o jogador viria a anunciar sua aposentadoria. 

Sem o craque ex-Real Madrid, a equipe carioca chegou à última rodada da competição sob risco de rebaixamento, mas dependia somente de um empate para garantir a permanência na Série A. No jogo derradeiro, o time de Mano Menezes surpreendeu e superou por 1 a 0 o forte Palmeiras, fora de casa, que ainda tinha chances de ser campeão brasileiro caso vencesse. Com somente 46 pontos, a equipe igualou a campanha realizada no Brasileirão de 2019, uma das piores na história recente do clube. Apesar disso,o Fluminense  encerrou o torneio na décima terceira colocação e, além de se manter na primeira divisão, conseguiu uma vaga na Copa Sulamericana de 2025. 

Mano Menezes fazendo um joinha para uma foto

Durante sua passagem pelo Fluminense, Mano Menezes venceu 20 partidas, empatou 14 vezes e foi derrotado em 13 ocasiões: um aproveitamento de 52,4% [Reprodução/Instagram: @fluminensefc]

Em dezembro, a diretoria do Flu renovou o contrato de Mano Menezes para 2025 e, segundo o presidente Mário Bittencourt, os méritos do técnico para evitar o rebaixamento foram centrais para a decisão. O Fluminense começou o ano com o vice-campeonato carioca, após ser derrotado pelo rival rubro-negro na final. A estreia do Fluminense de Mano Menezes no Brasileirão não agradou à diretoria: a derrota por 2 a 0 diante do Fortaleza foi suficiente para que o treinador fosse demitido. 

O trabalho desanimador se refletia dentro de campo, onde o futebol apresentado era pouco impositivo e dotado de raros momentos de brilhantismo tático, e fora dele, pois Mano já não era respeitado no vestiário. Entretanto, a causa primordial da derrocada do treinador: o elenco já demonstrava insatisfação com a conduta do técnico. As relações conflituosas de Mano com seus jogadores voltaram a ser assunto na imprensa após mais uma discussão acalorada com um dos líderes do plantel, o zagueiro Thiago Silva. O escândalo foi a gota d’água para o treinador de 62 anos, que teve seu desligamento notificado momentos depois do desentendimento. 

A saída do professor após a rodada inaugural da atual edição do campeonato brasileiro evidenciou a desorganização da gestão e fez ressurgir nos torcedores os temores do ano anterior. A diretoria saiu prontamente em busca de um substituto para remediar a situação e impedir que o início da equipe carioca no torneio repetisse os primeiros passos de 2024, afinal, a confiança da torcida estava em jogo. Assim, cogitou-se o nome já conhecido de Renato Portaluppi para o cargo. Às vésperas de uma partida contra o Bragantino, o tricolor apostou no treinador que conquistou a inédita da Copa do Brasil pelo clube.

Renato Gaúcho posando para uma foto

Em sua quarta passagem pelo tricolor carioca, Renato Gaúcho conquistou a Copa do Brasil de 2007 e levou o Fluminense à inédita final de Libertadores, em 2008 [Reprodução/Wikimedia Commons]

A sétima passagem de Renato pelo Fluminense como técnico foi inaugurada com uma vitória por 2 a 1. O novo técnico fez poucas alterações no time titular, herdou o esquema tático de seus antecessores, soube aproveitar os pontos positivos dos trabalhos anteriores e, pautado em tudo isso, inseriu o seu estilo de jogo. 

Após vencer seus quatro primeiros jogos no Brasileirão, Portaluppi emplacou o melhor início de campanha do clube no Brasileirão desde 2017. Com dez vitórias em 15 jogos, o Fluminense de Renato Gaúcho liderou seu grupo na Copa Sul-Americana, avançou para as oitavas de final da Copa do Brasil e hoje desponta na sexta posição no campeonato brasileiro. O aproveitamento de 71% anotado pelo técnico é reflexo da correção de várias incoerências, sobretudo defensivas, e infla as expectativas da equipe  na Copa do Mundo de Clubes. 

“Portaluppismo” e o elenco tricolor

Desde que Diniz introduziu as potencialidades do 4-2-3-1 ao Fluminense, a formação tornou-se intocável dentro do clube, mas passou por adaptações às propostas de jogo de cada treinador. Sob o comando de Renato, o esquema tático é composto por laterais ofensivos, uma dupla de volantes que sobem ao ataque, dois meias abertos com liberdade de posicionamento, um meia-ofensivo central com visão de jogo e um centroavante “falso nove” à frente. 

A recuperação da confiança do elenco com a chegada de Portaluppi proporcionou novas variações táticas ao treinador e fez ressurgir qualidades individuais que haviam se perdido em meio à turbulenta passagem de Mano Menezes. A fase ofensiva da equipe começa na boa saída de jogo dos zagueiros Thiago Silva e Juan Freytes, apoiados pelo volante Hércules, que permite variações entre construções de jogo bem trabalhadas e progressões rápidas, com passes longos e lançamentos. 

Thiago Silva em partida do Fluminense

“Moleque” de Xerém, Thiago Silva acumula passagens por Milan, PSG e Chelsea, e já disputou duas Copas do Mundo pela Seleção Brasileira [Reprodução/Instagram: @fluminensefc]

No último terço, o centroavante recua e possibilita a infiltração dos pontas Jhon Arias e Kevin Serna, enquanto os laterais Gabriel Fuentes e Samuel Xavier, que vivem ótima fase, avançam em profundidade para apoiar o ataque. Ao centro, Paulo Henrique Ganso distribui passes direcionados e Matheus Martinelli costuma manter a posição para fornecer opção segura de passe em caso de pressão adversária, mas por vezes aparece em meio aos defensores, como elemento surpresa. 

Samuel Xavier com a torcida do Fluminense

O lateral-esquerdo Samuel Xavier tem características ofensivas e já anotou um gol e uma assistência em nove jogos pelo Brasileirão 2025 [Reprodução/Instagram: @fluminensefc]

Defensivamente, o tricolor das Laranjeiras se recompõe em um 4-4-2. Na formação, o camisa nove e o meia-ofensivo se intercalam para pressionar a saída de jogo da zaga adversária, enquanto os meias abertos recuam para anular a opção de passe aos laterais. A boa organização do time em marcação alta foi a grande correção defensiva de Portaluppi, que, servido de jogadores com recurso, conseguiu finalmente aplicar o estilo de jogo que tentou introduzir no Grêmio. A solidez defensiva cria a plataforma para que o esquema ofensivo seja eficaz e, não à toa, desde que Renato assumiu, o Fluminense acumula uma média de dois gols por jogo. 

Embora o tricolor demonstre certa dificuldade para controlar a posse de bola e dominar partidas, mesmo contra times menos qualificados, o sistema defensivo bem armado e ritmo de jogo intenso da equipe não permitem que a posse adversária seja produtiva. No entanto, diante de clubes europeus, essa falta de preciosismo sobre a posse de bola possibilita a imposição do jogo adversário e pode resultar no desgaste físico do elenco tricolor. Diferentemente de clubes como Palmeiras e Flamengo, o Fluminense não dispõe de profundidade em seu plantel e não conta com substitutos de mesma intensidade e qualidade se comparados aos jogadores titulares. 

Devido à sequência de lesões do principal goleador da equipe, Germán Cano, Renato Gaúcho realizou experimentações na posição em busca de um substituto. O ponta colombiano Kevin Serna chegou a ser improvisado como centroavante, mas não se adequou, assim como o homem-gol e ex-Bahia Everaldo, que chegou ao clube no início da temporada e ainda não reencontrou sua fase goleadora. De acordo com o departamento médico do Fluminense, o argentino estará em forma para o “Super” Mundial de Clubes, mas não deve ser titular nos primeiros confrontos da competição, uma vez que esteve distante do grupo e fora dos planos de Renato por mais de um mês. Mesmo debilitado, Cano segue sendo o mais completo centroavante do elenco tricolor e tê-lo em campo pode ser decisivo para a sobrevida do Fluminense no torneio intercontinental. 

German Cano comemorando um gol

Germán Cano foi artilheiro do campeonato brasileiro de 2022 e da CONMEBOL Libertadores de 2023, e é o segundo maior goleador do Fluminense no século, atrás apenas de Fred [Reprodução/Instagram: @fluminensefc]

Para a disputa da Copa do Mundo de Clubes, a diretoria do tricolor aproveitou a situação financeira delicada do Santos e investiu cerca de 30,5 milhões de reais na contratação de Yeferson Soteldo. O ponta venezuelano chegaria para reforçar o elenco e disputar a titularidade com Kevin Serna na meia-esquerda, durante o “Super” Mundial. As primeiras avaliações médicas de Soteldo, no entanto, frustraram os planos de torcida e comissão técnica: foi detectada uma lesão de segundo grau na posterior da coxa esquerda. A expectativa do departamento é que o reforço esteja disponível a partir das oitavas-de-final, caso o clube avance ao mata-mata.

O “Flu” em Nova York

O Fluminense é cabeça-de-chave do Grupo F na Copa do Mundo de Clubes, pelo qual enfrentará o alemão Borussia Dortmund, o sul-coreano Ulsan Hyundai e o Mamelodi Sundowns, da África do Sul, respectivamente. A equipe de Renato Portaluppi tem qualidade suficiente para vencer as equipes asiática e africana, mas chances de tropeços não devem ser descartadas. Contra o Dortmund, o tricolor deve ser intenso e realizar um bom jogo, mas dificilmente vencerá. 

As expectativas indicam que o tricolor das Laranjeiras irá assegurar a segunda posição no grupo e avançar ao mata-mata. Nesse cenário, a equipe enfrentaria o líder do Grupo E pelas oitavas de final, que provavelmente será a Internazionale de Milão, atual vice-campeã europeia. Apesar da evidente disparidade de qualidade entre os elencos, a péssima performance na final da UEFA Champions League, em que os nerazzurri foram goleados pelo PSG, e a troca recente de técnico, levam a crer que a Inter pode encontrar dificuldades caso o Fluminense venha à campo em máxima potência.

Renato Gaúcho em foto com a taça da Copa do Mundo de Clubes

A única participação de Renato Gaúcho em um torneio mundial foi em 1983, quando o Grêmio conquistou a Copa Intercontinental sobre o Hamburgo, com dois gols decisivos de Portaluppi [Reprodução/Instagram: @fluminensefc]

Assim como aos demais clubes não-europeus, a participação na competição da FIFA já é um enorme feito para a história do Fluminense. A chance de enfrentar os mais competitivos e endinheirados times do futebol mundial, a exposição internacional e a premiação financeira, são os principais apelos do torneio às equipes brasileiras. 

A disputa do “Super” Mundial já rendeu ao Flu cerca de 86 milhões de reais, mas cada vitória da equipe na fase de grupos somará pouco mais de 10 milhões de reais a essa quantia, enquanto cada empate acrescentará metade desse valor. A grande probabilidade do Fluminense chegar às oitavas de final anima também o setor financeiro do clube, uma vez que a presença na fase inaugural do mata-mata vale, aproximadamente, 41 milhões de reais. Das quartas de final em diante, as premiações só aumentam, bem como a ambição dos clubes brasileiros, que, além de sonharem com uma campanha histórica na competição, também almejam embolsar aportes financeiros dificilmente vistos no futebol nacional. 

Foto da taça da Copa do Mundo de Clubes no Rio de Janeiro, com o pão de açucar de fundo

Troféu da Copa do Mundo de Clubes visita a Baía de Guanabara, no Rio [Reprodução/Instagram/@fifaclubworldcup]

*Imagem de capa: [Reprodução/Instagram: @fifaclubworldcup]

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