Por Júlia Sardinha (jusardinha.eca@usp.br)
Que atire a primeira pedra quem nunca se imaginou como um atleta olímpico, no pódio, repleto de glória e de prestígio. Para os sonhadores, a lista de modalidades aumentou nesta sexta-feira (9) com a estreia do breaking nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. No primeiro dia das competições — ou melhor, das batalhas — do novo esporte, dançarinas-atletas levaram o estilo de vida dessa vertente do hip-hop ao mundo. Dentre os países representados, o Brasil não esteve presente, já que nenhuma competidora brasileira conseguiu se classificar.
Desenvolvido no decorrer do tempo e reconhecido pelos praticantes como uma cultura específica, o breaking possui competições diversas com métodos de avaliação igualmente diferenciados. Para os Jogos, a arbitragem das competições teve o apoio dos pilares básicos da vertente, tais como a musicalidade, a técnica, a execução e a criatividade do breaker — nome dado às B-Girls e aos B-Boys que vivem esse estilo de dança do hip-hop.
A competição contou com 33 batalhas, 17 competidoras, nove juízes, dois MCs e dois DJs. Divididas em quatro grupos — nomeados de A até D —, com quatro membros em cada um, a primeira batalha eliminaria uma dentre as 17 B-Girls iniciantes. A decisão ocorreu entre a representante dos Países Baixos, India (India Dewi Sardjoe) e a afegã da Equipe Olímpica de Refugiados, Talash (Manizha Talash), que disputaram pela quarta vaga do grupo A — já formado pela chinesa 671 (Qingyi Liu), a estadunidense Sunny (Grace Sun Choi) e a portuguesa Vanessa (Vanessa Marina Cartaxo Farinha). India foi a campeã do duelo e avançou para as disputas classificatórias com o grupo.
Melhor de dois
A regra é clara: se não há contato com o chão, não é breaking. E para se manterem vivas na competição, as 16 B-Girls precisaram firmar uma importante parceria com a pista de dança onde se apresentaram aos jurados e à plateia. Outro fator importante na competição foi a “sorte do improviso”, uma vez que as atletas deveriam moldar os seus movimentos de acordo com o ritmo da música escolhida pelos DJs.
Os termos técnicos do esporte — como footwork, throw down, freeze e power moves — não caíram de primeira na boca do público, o que deixou a maioria dos presentes confusos sobre os votos dos juízes e as pontuações recebidas pelas suas participantes prediletas — ocorreram até mesmo momentos de vaias referentes à revelação dos votos. Mas a torcida não desanimou e, aos poucos, tomou gosto pelo vocabulário do breaking.
Estreia do breaking atraiu multidão nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 [Reprodução/Instagram: @_breakingforgold]
Cada uma das dançarinas-atletas batalhou com as outras três membros dos seus conjuntos, totalizando 24 batalhas preliminares. Nas disputas, as B-Girls se enfrentaram em dois rounds, com máximo de nove votos em cada. Quem ganhasse o maior número de rounds e recebesse o maior número de votos dos jurados, avançava na classificação interna do grupo — com a garantia de vagas na próxima fase para as duas primeiras colocadas.
Competidoras como a francesa Syssy (Sya Dembele), do grupo B, e a lituana Nicka (Dominika Banevic), do mesmo grupo, conquistaram o carinho e a torcida frenética dos presentes. A marroquina Elmamouny (Fatima Zahra El Mamouny) também ganhou destaque por ser a única representante do continente africano — e do chamado Sul Global — na competição.
Melhor de três
As quartas de final consagraram Syssy, Nicka, India e 671 entre as oitos melhores breakers do planeta junto com a ucraniana Kate (Kateryna Pavlenco), a chinesa Ying Zi (Ying Zi) e as japonesas Ami (Ami Yuasa) e Ayumi (Ayumi Fikushima). Ainda com batalhas em duplas, as decisões para as semifinais contaram com a adição de mais um round às competições, com os votos dos jurados revelados apenas ao fim do embate e não ao fim de cada round, como ocorrido nas preliminares.
A surpresa dos telespectadores foi a desclassificação, ainda na fase inicial, das estadunidenses Sunny e Logistx — já que o país é considerado berço da modalidade — e da francesa Senorita Carlota (Carlota Dudek), uma das representantes da “casa”. Outros desfalques importantes às quartas de final foram a italiana Anti (Antilai Sandrini) e a ucraniana Stefani (Anna Ponomarenko), dos grupos C e D, respectivamente.
O nível de complexidade dos movimentos e a empolgação do público aumentaram com as quartas de final. Um dos grandes destaques foi a B-Girl India que, mesmo com uma batalha a mais em relação às demais dançarinas-atletas — uma vez que enfrentou Talash na pré-classificatória —, avançou com êxito para a semifinal. A chinesa 671 e a japonesa Ami chegaram às semifinais com os três rounds ganhos contra as suas concorrentes, o que as colocou como favoritas à medalha de ouro.
Dançando pelo ouro
Na primeira batalha das semifinais, India — ovacionada pela plateia — enfrentou Ami. As duas travaram uma frenética disputa para decidir quem seria a primeira finalista olímpica de breaking. Apesar do seu esforço, India perdeu dois dos três rounds para a japonesa e passou a sonhar apenas com o bronze.
Antes da luta pelo terceiro lugar, 671 e Nicka competiram pela segunda vaga na final olímpica pela medalha de ouro. A batalha entre as duas já poderia, por si só, ser considerada o grande desfecho da competição, já que estavam cara a cara a número um e a número dois do ranking pré-olímpico, nessa ordem. Nicka venceu dois dos três rounds e deixou 671 — principal aposta ao ouro — à vaga na luta pela medalha de bronze.
A esperada final do breaking feminino nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 foi protagonizada por Ami e Nicka. Em acirrada batalha, a criatividade, a execução e a habilidade da japonesa — terceira colocada no torneio pré-olímpico — a consagraram como a primeira campeã olímpica de breaking, enquanto Nicka ficou com a medalha de prata e 671, com a de bronze.
Rapper estadunidense Snoop Dogg inaugurou a pista de dança e a competição de breaking nas Olimpíadas [Reprodução/Instagram: @_breakingforgold]
Imagem de capa: [Reprodução/Instagram: @_breakingforgold]