A minissérie Watchmen (2019), da HBO, tem um elenco formidável e conta com Regina King, Yahya Abdul-Mateen II, Louis Gossett Jr., Jovan Adepo, Jean Smart e Jeremy Irons, todos indicados ao Emmy 2020, além de outras 20 indicações. Dessa forma, a produção se torna a segunda mais indicada da história.
A obra não apresenta nenhum episódio “abaixo da média”, ainda que dois episódios foquem em personagens específicos. Esses episódios focalizados foram ambos, inclusive, indicados ao prêmio de melhor direção de minissérie ontem à noite. Watchmen é certeira em praticamente tudo o que se propõe a realizar. A produção da HBO bebe da obra-prima de Alan Moore e Dave Gibbons na quantidade correta, adicionando novos elementos àquele universo.
A minissérie amplia seu universo com sucesso ao incorporar as personagens e história da HQ com o contexto contemporâneo, 34 anos depois.
A protagonista Angela Abar, que rendeu o prêmio de melhor atriz de minissérie a Regina King, fala no primeiro episódio de um suspeito que “cheira tanto a supremacia branca que parece uma cândida”. Fazendo um trocadilho da fala da personagem com a palavra cândido, pode-se dizer que um dos objetivos do criador da série e vencedor do prêmio de melhor roteiro, Damon Lindelof, é o de expor aqueles que, até então, eram os cândidos da sociedade, ainda que se mantivessem no anonimato.
O primeiro episódio começa com o massacre da “Wall Street Negra” em 1921, na cidade de Tulsa. O ocorrido corresponde a um acontecimento verídico, mas que se mostrou inédito para muitos dos espectadores da série. Ainda que finalizada no início de 2019, a produção era uma das mais atuais da edição da premiação Emmy 2020.
O melhor episódio da minissérie é, sem questionamentos, o sexto. Este, que é uma das melhores horas do audiovisual produzidas nos últimos tempos, foi premiado nas categorias de melhor direção e de melhor ator coadjuvante para o trabalho primoroso de Jovan Adepo como o jovem Will Reeves, que assim como Angela, fazia justiça encapuzado. Ele é, inclusive, um dos personagens colocados em seu devido lugar de destaque e que, como tantas outras figuras negras de relevância, foram apagados da história.
Angela viveu em Saigon, no Vietnã, onde não havia muitas pessoas que se pareciam com ela, e percebemos o quanto o pertencimento é importante para a protagonista. Daí sua afeição pela personagem Sister Knight, que, na infância, era uma das únicas pessoas com quem tinha essa identificação. Cal, mais tarde, pergunta a Angela qual dos corpos ela deseja que ele incorpore, e ela escolhe aquele que traz a ela uma sensação maior de pertencimento. Esse traço da personalidade de Cal deve ser levado em consideração em seu desenvolvimento em Watchmen, e tornam ainda mais acertada a escalação de um ator negro para o papel.
Em seu discurso de aceitação, Yahya comentou que “Watchmen foi sobre alguém que veio para a Terra dar amor para uma mulher negra, e ele fez isso no corpo de um homem negro, e sou muito orgulhoso disso. Eu dedico esse prêmio às mulheres negras na minha vida”.
Watchmen saiu da cerimônia do Emmy com 11 prêmios – sete técnicos e quatro em categorias principais, incluindo melhor minissérie – e com um legado para o conteúdo de super-heróis. Talvez esteja na hora de todos a conhecerem.
[Imagem de capa: Divulgação/HBO Brasil]