Jornalismo Júnior

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A ciência por trás da monogamia e poligamia

O que a evolução e a sociologia têm a dizer sobre o tipo de relacionamento que temos?

Era uma vez… Em um reino muito, muito distante, uma donzela que esperava ansiosamente pelo dia em que seu grande amor chegaria ― um príncipe tão perfeito quanto ela. Como previsto, eles se conheceram, casaram-se e viveram felizes para sempre. Sem traições, atração sexual por qualquer outro indivíduo e tudo aquilo que a afastasse da perfeição. Essa narrativa romântica e idealizada da monogamia, relacionamento restrito a duas pessoas, é o sonho de muitos. Os quais, muitas vezes, possuem preconceito com outras perspectivas amorosas, como a poligamia ― relacionamentos que abrangem mais de duas pessoas, sendo as regras definidas entre os trios, quartetos etc. Mas o que a ciência tem a falar sobre esse assunto?

 

O que a evolução diz…

  Imagem: Reprodução/ Marco Antonio Corrêa Varella]
Imagem: Reprodução/ Marco Antonio Corrêa Varella]

Segundo o pós-doutor em etologia cognitiva, Marco Antonio Corrêa Varella, na natureza existem dois fatores ecológicos que definem se os relacionamentos da espécie serão monogâmicos ou poligâmicos: a disponibilidade de recursos no ambiente e a dependência das crianças. “Quando há escassez de alimento, os pais precisam unir forças a fim da ninhada ter o mínimo para sua sobrevivência. Por outro lado, quando há abundância de recursos, não é preciso que o casal se mantenha exclusivo”. Ele ainda diz que existe uma mesma espécie de pássaros que é monogâmica e poligâmica, dependendo do local onde está: “Na floresta, onde tem muita comida, a fêmea consegue alimentar os filhotes sozinha. Já na pradaria, com pouco alimento, os pais se juntam para sustentar a ninhada”. Ou seja, o tipo de relação estabelecida está ligado não apenas às espécies, mas também às condições do ambiente em que se encontram. 

O psicólogo evolucionista dá enfoque aos mamíferos e relata que, além das fêmeas possuírem óvulos mais raros do que o esperma, elas também têm a certeza e o alto custo da maternidade – dada à gestação e à fecundação interna. “As fêmeas tendem a assumir o cuidado do filhote”, o que explica a porcentagem de apenas 5% dos mamíferos serem monogâmicos. Ou seja, como não existe a necessidade dos pais se unirem para sobrevivência dos filhos, a maioria das relações são poligâmicas. 

Como exceção à “regra” entre mamíferos, os humanos adotam, em sua maioria, relações monogâmicas. Marco explica o porquê disso: “Houve escassez de recursos e imaturidade do infante durante os últimos 6 milhões de anos da evolução humana. Portanto, os machos acabaram se vinculando para ajudar a criar a prole. Além disso, dos grandes primatas, os humanos têm o filhote mais imaturo”. Isso ocorre porque quando assumimos a postura bípede, houve  uma reconfiguração da pelve e estreitamento do canal do nascimento. Como esses eram fatores limitantes para o crescimento do cérebro, o período da gestação diminuiu, causando maior imaturidade já que o tempo para o desenvolvimento intrauterino era menor. 

O pesquisador ainda afirma que, antes da descoberta do fogo, havia maior dificuldade nutricional, por conta da pouca disponibilidade de alimentos aliada à quantidade numerosa de competidores. Esse foi mais um fator para que os humanos fossem conduzidos à monogamia.  

 

Casal de idosos monogamicoscaminhando de mãos dadas  [Imagem: Reprodução/Pixabay]
A narrativa romântica da monogamia prevê relacionamentos marcados pela ideia de “felizes para sempre”. [Imagem: Reprodução/Pixabay]

Hoje: ciência e abordagem sociológica

Do ponto de vista sociológico, a ativista na luta não-monogâmica, Anne Stucker, explica que a monogamia foi difundida na sociedade por conta do conceito de família e propriedade: “A finalidade era assegurar que os descendentes ficassem com as posses dos pais”. A união de duas pessoas era o ideal, uma vez que haveria uma somatória de bens, sem que fosse preciso uma grande divisão deles – ou seja, sem que os bens de uma família passassem para muitas outras. 

Imagem: Reprodução/ Anne Fonseca Cunha Stucker]
Imagem: Reprodução/ Anne Fonseca Cunha Stucker]

Anne diz que a monogamia é uma forma de fazer com que as mulheres sejam oprimidas, já que para serem validadas, muitas vezes, precisam estar casadas dentro desse formato de relacionamento. No panorama histórico, o Brasil colonial permitia o assassinato de mulheres adúlteras, ou seja, a simples fuga do modelo imposto socialmente, dava o direito ao homem de matá-las. E até 2005, a prática da traição era crime, o culpado poderia ficar preso por até 6 meses.

A ativista completa: “Não-monogamia é uma forma de se relacionar que nega o controle e posse das pessoas, defendido na monogamia. Para mim, é sobre autonomia afetiva, emocional, sexual. Não é necessariamente sobre ter vários parceiros.”

Segundo Marco, “juntar-se com o objetivo de criar a prole, foi uma necessidade evolutiva da nossa espécie. Mas uma vez que as mulheres possuem recursos suficientes para sua independência e conseguem criar crianças sozinhas, essa necessidade de vinculação tende a diminuir”.

O especialista afirma que, em países onde as mulheres têm mais chance de estudar, construir uma carreira e, como consequência, ter seus próprios recursos, a taxa de divórcio é maior. Isso porque ela depende menos do seu marido para sua sobrevivência e de seus filhos. “Interculturalmente, o divórcio tende a acontecer no quarto ano de casado. Curiosamente, foram passados os anos de maior mortalidade infantil”. Marco relata: “Uma vez que a necessidade de cuidado biparental diminui, com a maior independência da criança, os casais tendem a se separar. Por ainda haver uma tendência monogâmica, geralmente, as pessoas se juntam a outras, o que gera uma série de relacionamentos monogâmicos”. Ou seja, esses relacionamentos começam, duram certo tempo, há um término e o ciclo se inicia novamente. 

O psicólogo evolucionista explica que “apesar de sermos da mesma espécie, existem variações individuais por razões genéticas e ambientais”. Nesse sentido, cada indivíduo possui particularidades próprias e por isso, o tipo de relacionamento que a pessoa terá, sendo monogâmico ou não, depende das especificidades dela. “Temos um pluralismo de estratégias sexuais, em que diferentes abordagens coexistem na população e nas mesmas pessoas: monogamia para a vida toda, monogamia serial, monogamia com traição, poligamia etc.”

 

2 comentários em “A ciência por trás da monogamia e poligamia”

  1. VINICIUS DOS SANTOS ALVES

    Poxa, tava tão entretido que pensava que haveria mais coisa no texto. Contudo, foi incrível relacionar a ciência com o assunto de monogamia/poligamia.

  2. Nem a luz do Direito podemos dizer que a monogamia permaneça sendo o “socialmente apregoado” com casamento e união estável podendo ser contemporâneo, desde que Ana Maria Braga, casada, firmou Declaração de União Estável com o segurança dela: o Madruga e, a ciência voltando a atrelar aos homens que se relacionam entre si (logo atestando a Bissexualidade), na década de 80 foi com relação a AIDS e atualmente com a Varíola dos Macacos! Até a “companheira” ou “a amante” atualmente sendo a “função” desempenhada por outro homem! Atualmente , eu e outro homem, maduros, temos relação fluida: eu atendendo a carência dele no conjugal depois da menopausa da esposa que “perdeu” a libido! Por ser cisgenero ele foi atencioso em perguntar se poderia “recebe-lo” ao que respondi que estava “sem homem” até suspirou e maroto disse que responsabilidade em atender maritalmente outro homem!

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