Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

‘And In The Darkness, Hearts Aglow’: o brilho no coração de quem tenta não desistir do mundo

Em seu novo álbum, Weyes Blood consegue mais uma vez transmitir sentimentos universais e se consagra como uma força da música alternativa

Weyes Blood é o projeto solo da cantora e compositora norte americana Natalie Mering. Iniciada no Noise, com o álbum The Outside Room, lançado em 2011, ela vem cada vez mais explorando melodias que tendem a um Soft Rock melancólico, aos moldes de Lana del Rey, porém mais experimental. Sempre fazendo barulho no mundinho Indie, ela viu seus ouvintes aumentarem em um explosivo 2019. Seu terceiro álbum, Titanic Rising chegou às plataformas de música como uma tempestade quieta no universo Alternativo. Com um evidente amadurecimento na produção e no conceito, o disco foi aclamado por crítica e público e tornou Natalie Mering um novo expoente do gênero. Depois de três anos e alguns singles lançados, Weyes Blood fez, no último dia 18, seu aguardado retorno às plataformas musicais.

Segmentos e rupturas

Exemplos recentes mostram que não é fácil suceder um sucesso. Mudando ou seguindo na mesma sonoridade, manter, ao mesmo tempo, a qualidade e o apoio do público, que ficou por anos nutrindo expectativas sobre seu novo trabalho, é tarefa árdua. Só nos últimos dois anos não foram tão bem: Lorde com Solar Power, Lana com Chemtrails Over the Country Club e Mitski com Laurel Hell, todos trabalhos muito bons, apenas não tão bons quanto seus antecessores.

Contrária a essa tendência, com And in the Darkness, Hearts Aglow, Weyes Blood consegue transformar o ponto alto de sua carreira em um platô. A melancolia e o experimentalismo de Titanic Rising estão lá, mas, dessa vez, acompanhados de letras – todas compostas apenas pela cantora – levemente mais esperançosas. Weyes contou em entrevistas de divulgação que o novo álbum é a continuação de uma trilogia iniciada com Titanic, o que fica claro com a leve mudança na perspectiva dos discos. Enquanto no primeiro ela é nostálgica, sempre reminiscente do passado, agora, a cantora vive o presente, mesmo com medo, refletindo sobre a possibilidade de um futuro melhor. Resta saber se, na parte final dessa história, o final será dramático ou feliz.

A identidade visual de Weyes continua precisa na nova era. Mais uma vez apostando nos tons de azul e roxo, a bela capa e os elaborados clipes transmitem exatamente a melancolia que as letras e melodias comunicam. Os bons álbuns podem, sim, ser julgados pela capa.

A capa do disco: uma simplicidade precisa. [Imagem: Divulgação/Sub Pop]

Uma jornada em dez faixas

Podemos dividir o álbum em dois momentos. Nas primeiras cinco músicas, Weyes revela suas angústias: a solidão e a necessidade de conexões; e o sentimento de estar sempre perdido e tentando se encontrar em um mundo cada vez mais caótico. Na poderosa abertura, e primeiro single lançado pela artista, It’s Not Just Me, It’s Everybody, Mering estabelece justamente o que diz o título: que esse sentimento não é somente dela, é de todo mundo. Afinal, quem nunca se sentiu sozinho mesmo rodeado de pessoas em uma festa?

No clipe de It’s Not Just Me, It’s Everybody, um celular animado representa a perda das conexões no mundo atual. [Imagem: Reprodução/YouTube]

Em um mundo desconexo como o que Weyes – e quase todo o resto da humanidade – habita, parece que estamos condenados à danação eterna. A segunda faixa, Children of the Empire, é uma reflexão carregada de percussão sobre os erros cometidos e se há ou não volta. A cantora fala que não há tempo para temer, pois a liberdade ainda é uma possibilidade. A música, assim, resume bem o contraste entre ceticismo e esperança do álbum. E é com essa esperança que a artista tenta lidar na sequência, em Grapevine, uma balada sobre estar apaixonado, mas, mesmo assim, sozinho, retomando o tema das conexões impossíveis.

No clipe de Grapevine, que, em certos momentos, lembra Kate Bush, Weyes compara um relacionamento a estar dirigindo em uma estrada deserta até bater o carro. [Imagem: Reprodução/YouTube]

O ponto alto do álbum é, talvez, God Turn Me Into a Flower, último single lançado antes do disco e o melhor avaliado por seus ouvintes. Inspirada no mito de Narciso, God Turn Me Into a Flower revela que a solução para nossas angústias não pode estar em outro lugar que não dentro de nós mesmos. É como um louvor, recheado com sons de passarinhos. Como um pedido de ajuda a quem quer que esteja ouvindo. Depois, em Hearts Aglow, ela transfere esse pedido, também, a um novo amor, com direito a um curto, porém potente, solo de guitarra. Essa catarse abre espaço para o segundo momento do disco, quando, após refletir sobre suas angústias, Weyes se pergunta: será que conseguiremos mudar algo?

Essa transição é anunciada pelo interlude And in the Darkness. A produção passa a ser menos melancólica e mais percussiva, principalmente em Twin Flame, talvez a mais fraca – ou menos forte – do álbum e em The Worst is Done. Passando, também, pela instrumental e transcendental In Holy Flux, chega-se ao final do disco. Com a balada de piano A Given Thing,  possivelmente a segunda melhor música, perdendo apenas para God Turn Me Into a Flower, o disco tem um fechamento impecável, ao mesmo tempo melancólico e esperançoso.

É natural, é uma certeza

O som etéreo, quase religioso, de Weyes Blood; as músicas carregadas por um belo piano e finalizadas com uma produção diversa; a capa que prenuncia o que se está para ouvir; tudo faz o ouvinte transcender durante os 46 minutos de álbum. A luz vista no coração de Weyes na capa do disco acende também no interior de quem ouve. Na escuridão, corações flamejam.

Imagem de capa: Reprodução/YouTube

1 comentário em “‘And In The Darkness, Hearts Aglow’: o brilho no coração de quem tenta não desistir do mundo”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima