por Jullyanna Salles
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Cássia Eller é uma figura notável na história da música brasileira. A cantora lançou o primeiro álbum em 1990 e, cerca de dez ano depois, já era considerada uma das maiores vozes do país. Fazendo uso de um característico tom rouco e uma agressividade típica, Cássia se destacou em todo o território nacional. Não é por acaso que, mesmo após uma década de sua morte, seu nome ainda é lembrado e fez por merecer, em 2015, um documentário musical.
Dirigida por Paulo Henrique Fontenelle, a produção apresenta um trabalho cauteloso de captação de informação e montagem de material. Fotos e vídeos originais são intercalados com depoimentos de conhecidos, jornalistas e músicos da época.
As colagens e os efeitos utilizados denunciam um certo perfeccionismo do diretor. Além disso, é notável a sensibilidade das imagens utilizadas. Cássia Eller não era reconhecida por sua face afetuosa, apesar de, como o filme comprova, ser bastante carinhosa e meiga com as pessoas mais próximas. Sem deixar de retratar a cantora excêntrica que ela era, Fontenelle é capaz de resgatar características desconhecidas, garantindo que seu documentário não seja apenas um apanhado de informações que já circularam inúmeras vezes.
O longa-metragem apresenta toda história de vida de Cássia, não se limitando à sua carreira no mundo da música. Momentos como o nascimento de seu filho, Francisco Eller, e seu desconforto ao lidar com a fama e com a mídia transmitem bastante da personalidade da cantora.
O documentário retrata ainda um assunto muito relevante e que exige discussão. A abordagem dos jornais e revistas sobre a morte de Cássia Eller, de modo geral, foi deplorável. Confirmações sobre o uso abusivo de drogas vieram antes dos médicos, por veículos da imprensa e sem qualquer tipo de apuração mais séria. A produção mostra o quão prejudicial a divulgação de informações imprecisas é e como isso agrava a dificuldade dos mais próximos em lidar a morte. É impossível resistir ao envolvimento provocado pelos depoimentos inseridos no longa. Não só a companheira da cantora, Maria Eugênia ou sua mãe, Nancy Ribeiro Eller, mas também outros grandes nomes da música nacional como Zélia Duncan e Nando Reis fazem parte do documentário e emocionam o expectador.
Paulo Henrique Fontenelle dirigiu mais que uma cinebiografia. Seu trabalho resultou em uma grande obra sobre a vida, personalidade e a carreira de Cássia Eller, que se estende para discussões pertinentes sobre a mídia e o preconceito. E como não podia faltar, a produção traz apresentações que justificam a sua notoriedade no cenário da música brasileira. Sobretudo, é destacada a capacidade que a cantora de unir os diferentes públicos musicais que normalmente se desentendiam entre si e, segundo Oswaldo Montenegro, cederam muito em suas “picuinhas” após a atuação de Cássia.