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Espetáculo ‘Leão Rosário’:  nunca se meta entre o dragão e sua fúria

Dentro de um reino na África Ocidental, um emocionado homem expõe o quanto a sabedoria e a loucura se aproximam com o passar do tempo
Na imagem, o ator veste o Manto de Leão Rosário, inspirado nos bordados de Bispo do Rosário
Por Henrique Giacomin (henrique.giacomin@usp.br) e Lorenzo Souza (lorenzosouza@usp.br)

Na comemoração de seus 50 anos de carreira, Adyr Assumpção sobe ao palco do Centro Cultural Banco do Brasil com o espetáculo Leão Rosário. Sozinho em cena, Adyr demonstra toda sua potência e habilidade artística ao dar vida a um personagem recheado de nuances e referências.

A trama é inspirada em Rei Lear, de Shakespeare, e referencia a ancestralidade africana,  como as produções de Arthur Bispo do Rosário — artista visual brasileiro que, durante 50 anos, residiu em diversas instituições psiquiátricas por sofrer de esquizofrenia. 

A construção do espetáculo

A peça narra a história do rei Leão Rosário, dono de um grande reino na África Ocidental que, em decorrência da idade avançada, decide abdicar de suas obrigações monárquicas e dividir todo seu poder e terras entre suas três filhas. Com o decorrer do espetáculo, a história do rei envolve enormes discussões sobre a velhice, o tempo, as relações familiares e o impacto da loucura em alguém. Em dado momento, o rei enlouquece e a linha entre loucura e sabedoria torna-se cada vez mais tênue. 

No último dia 23, a Jornalismo Júnior esteve presente na estreia para convidados de Leão Rosário. Em uma conversa com Adyr Assumpção, o ator contou sobre a trajetória e influências do espetáculo. “A ideia inicial da peça não era essa [uma inspiração em Rei Lear misturada a influências como Bispo do Rosário] . Mas veio a pandemia e, com o passar do tempo, essa coisa da solidão ficou muito aparente. Tanto quem é jovem, quanto quem é mais velho sentiu isso.” Ele relata que, além da mudança de comportamento influenciada pela pandemia, a inspiração para o espetáculo solo veio de vários lugares.

Matheus Espessoto, que é operador de luz do espetáculo, explica como é feito o trabalho conjunto, mesmo em uma peça solo. “O Adyr fica rendido, por estar sozinho, então qualquer erro, é muito evidente. Por isso, a gente tá sempre jogando com ele: a gente tá no movimento dele,  na fala dele, então em nenhum momento da peça dá pra descansar”, relata Matheus, em entrevista. Ele acrescenta que as luzes são as personagens da peça, com as quais o protagonista conversa. “O Adyr, entende muito bem a luz dele e  o movimento dele no palco.”

A luz e o som são peças-chave na construção de cenários: juntas, elas funcionam como personagens vivos além do rei Leão Rosário. Ao mesmo tempo em que  atua sozinho no palco, Adyr está a todo momento em um processo de criação, moldando as referências da peça como um artesão. Ele cria um personagem cheio de particularidades, sem deixar um ponto sem nó. 

O som também se conecta com o figurino da peça, pois ambos mesclam elementos de diferentes origens. Com essa junção, Adyr é capaz de trazer uma nova vida à história de Shakespeare. Nas palavras de André Papi, operador de som do espetáculo: “Eu acho que o som ajuda a gente a se localizar estética e culturalmente. O som de início já coloca a gente em um lugar que já não é o lugar original onde o Rei Lear estava, então o som cumpre essa função, juntamente da trilha sonora.”

Uma das referências para a construção do rei Leão Rosário é o artista plástico sergipano Arthur Bispo do Rosário. Rosário é reconhecido internacionalmente por seu trabalho com mantos-estandarte bordados, feitos dos mais variados materiais ao seu alcance dentro do Hospital Colônia, onde ficou internado por muitos anos. Somente após 18 anos de internação, ele atraiu a atenção dos críticos de arte e expôs suas peças pela primeira vez. Seu trabalho de modificação das normas e a loucura que tanto fez parte de sua jornada artística são características importantes na personagem do rei.

Imagem do espetáculo Leão Rosário, onde Adyr aparece ao lado dos manequins que representam as filhas do personagem da peça
Adyr, ao centro, junto dos manequins que representam as filhas do personagem da peça [Imagem: Henrique Giacomin/ Arquivo Pessoal]

Em entrevista à Jornalismo Júnior, o dramaturgo, jornalista e convidado do evento Sérgio Roveri, discute a complexidade da peça. “Eu já tinha visto várias montagens do Rei Lear , mas o que eu achei muito interessante [na versão atual] foi o casamento entre Shakespeare e o Bispo do Rosário. Essa questão da loucura do rei, com a loucura do Bispo do Rosário, como os dois lidaram com isso, e como conseguiram transformar isso em arte”, diz. Sérgio elogia o trabalho da equipe, que conseguiu “tirar um proveito estético e artístico dessa situação da loucura”. Entretanto, o dramaturgo destaca a diferença entre as duas influências da trama: “No caso do Rei Lear, obra do Shakespeare, há um personagem que enlouquece e no meio daquela loucura fala coisas muito lúcidas, e o Bispo, é uma pessoa, não era um personagem, e que confinado produz, borda. Achei uma descoberta muito interessante, você relacionar a loucura desses personagens e transformar isso num espetáculo”.

Foto do Coquetel pós-espetáculo, com Adyr à direita
Foto do Coquetel pós-espetáculo, que contou com a presença de convidados e o staff da peça [Imagem: Henrique Giacomin/ Arquivo Pessoal]

Informações Gerais

O espetáculo acontece todas às quintas, sextas e segundas às 19h, e aos sábados, domingos e feriados às 17h no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), que fica localizado no Centro Histórico de São Paulo, próximo às estações Sé e São Bento do Metrô. O prédio histórico vale a visita, seja pela arquitetura, seja pela cafeteria no térreo. Além da peça, o espaço também conta com exposições itinerantes. A região do centro histórico é consideravelmente perigosa, porém o CCBB conta com translado gratuito, que sai da Rua da Consolação e vai até o edifício na Rua Álvares Penteado.

Os ingressos podem ser adquiridos previamente pelo site do CCBB, e os valores são R$30,00 pela entrada inteira, e R$15,00 pela meia-entrada. Os ingressos são liberados na sexta-feira da semana anterior de cada final de semana às 12h. Para mais informações, é possível acessar a página dos ingressos clicando aqui ou por meio do site do CCBB.

Área interna do andar térreo do CCBB
O espaço interno do prédio conta com um ambiente de espera aconchegante, além de bonito e clássico [Imagem: Lorenzo Souza/ Arquivo Pessoal]

 *Imagem de capa: Henrique Giacomin/Arquivo Pessoal

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