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Em crise? A decadência recente dos filmes de herói

Filmes da Marvel e DC estão em queda em relação aos fãs e à crítica
Por Breno Marino (brenomarino2005@usp.br)

Depois de uma década de auge, com recordes de bilheterias em todo o mundo, os filmes de super herói estão passando por um momento totalmente oposto. Incomodando os fãs e não satisfazendo a crítica de cinema, grande parte das obras lançadas a partir de 2020  não vêm agradando seus espectadores.

Histórico: o início das adaptações de HQs

As histórias em quadrinhos sempre foram uma febre entre o público infanto-juvenil. Quando a  internet não era desenvolvida como hoje, os gibis representavam uma grande fonte de entretenimento e diversão para os adolescentes e crianças do século 20. Líderes nesse quesito, a Marvel e a DC Comics criaram heróis e personagens que marcaram as páginas das HQs. 

Como forma de reproduzir esse sucesso para as telas de cinema, filmes de super heróis começaram a ser feitos, por volta da década de 80. Superman (1978), de Richard Donner, e Batman (1989), de Tim Burton, são alguns exemplos. Nesse período, o foco dos produtores e roteiristas era claramente agradar o público infanto-juvenil, o que tornava tal tipo de filme ingênuo e desinteressante para o público adulto, que muitas vezes zombava e tirava sarro dessas produções.

O cenário passou a mudar nos anos 2000, com X-Men: O Filme (2000). A obra, além de buscar agradar os espectadores mais jovens com os personagens dos quadrinhos, atraiu a atenção de adultos com uma história e narrativa mais profunda que antigamente. Se antes aspectos individuais e de desenvolvimento de personagens perdiam espaço para inúmeras cenas de luta, a produção da Fox alterou esse prognóstico.

A produção, que custou aos cofres da empresa cinematográfica US$75 milhões, gerou US$296,3 milhões de receita. Após esse sucesso, outros filmes seguiram o mesmo caminho, em especial o primeiro Homem-Aranha (Spider-Man, 2002), do diretor Sam Raimi, que gerou US$821,7 milhões de arrecadação, a maior bilheteria em seu ano de lançamento.

A trilogia, protagonizada por Tobey Maguire, ainda é muito querida pelos fãs [Imagem: Reprodução/IMDb]

Toda essa ascensão não afetou só os filmes de herói, mas as adaptações de HQs em geral. As séries MIB – Homens de Preto e As Tartarugas Ninjas são exemplos de obras que ganharam espaço nas telinhas.

A década de Ouro

De 2010 a 2020, os filmes de super herói alcançaram seu auge, tanto em arrecadação quanto em qualidade. Muito desse resultado vem do grande projeto realizado pela dupla de estúdios Marvel e Disney.

Com o filme Homem de Ferro (Iron Man, 2008), a empresa, antes focada em quadrinhos, deu início ao seu ousado projeto de criar um universo compartilhado nos cinemas, o famoso MCU (sigla, em inglês, para Marvel Cinematographic Universe, em português, UCM). Ao longo de 23 filmes, a chamada “Saga do Infinito” teve seu desfecho em 2019, com a produção de Vingadores: Ultimato (Avengers: Endgame, 2019). Com poucas decepções pelo caminho, o objetivo da Marvel foi cumprido com êxito. De forma histórica, os filmes garantiram arrecadações gigantes, muitos acima de US$1 bilhão.

Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato estão entre os dez filmes de maior bilheteria da história do cinema [Imagem: Reprodução/IMDb]

Além do sucesso financeiro, as obras agradaram legiões de fãs e parte dos críticos, rendendo até indicações ao Oscar. Em entrevista ao Cinéfilos, Mariana Prado, influenciadora do mundo cinematográfico e geek, comenta sobre as razões do sucesso desses filmes: “Acredito que a principal qualidade da Marvel foi a consistência dos personagens. Os personagens não se alteraram de filme para filme. Isso permitiu com que o público pudesse evoluir junto com eles. Então foram passos dados vagarosamente para justamente criar essa conexão”.

Iniciando com filmes de apresentação de personagens, como Thor (2011), Guardiões da Galáxia (Guardians Of The Galaxy, 2014) e Capitão América O Primeiro Vingador (Captain America: The First Avenger, 2011), aos poucos tais heróis se firmavam na mente do público, seja para os fãs de quadrinhos ou não. Toda essa construção culminou em dois filmes que marcaram o mundo cinematográfico geral. Reunindo todos os personagens apresentados em cerca de 10 anos, Vingadores: Guerra Infinita (2018) e Vingadores: Ultimato causaram uma superlotação e alvoroço nas salas de cinema. Somados, as duas obras geraram US$4,7 bilhões de arrecadação.

DC: a inconsistência é padrão

Ao contrário do que aconteceu com sua concorrente, a DC viveu uma década de inconstâncias, de altos e baixos. Tentando criar seu universo compartilhado, seguindo os passos do sucesso da Marvel, a Warner viu seu objetivo e plano não funcionarem.

Em meio a filmes no máximo regulares e contraditórios, que muitas vezes contentavam a poucos e desagradavam muitos, o universo compartilhado não deu certo.  Mesmo com atores estrelados, como Henry Cavill e Ben Affleck, personagens marcantes como Superman e Batman não se conectaram com grande parte do público, em especial com uma falta de coesão entre os filmes.

A Liga da Justiça, principal grupo de heróis dos quadrinhos da DC, foi uma das vítimas de um péssimo planejamento e direção [Imagem: Reprodução/IMDb]

Para Mariana, o problema vai além da simples falha de roteiro. “Faltou um olhar mais profundo na construção desse universo. Eles não sabiam o quanto os fãs realmente se importavam com esse universo compartilhado”, comentou.

Ao mesmo tempo, mesmo com essa falta de agrado aos fãs e críticos, as obras arrecadaram um bom dinheiro, sendo Aquaman (2018) o filme com maior bilheteria na história da DC (US$1,1 bilhão). Além disso, produções alternativas da DC, que não se conectavam a linha principal, como Coringa (Joker, 2019) e a trilogia Batman, dirigida por Christopher Nolan, fizeram um enorme sucesso, tanto entre o público quanto entre os críticos de cinema.

O tombo pós o infinito

Depois da “Saga do Infinito”, correspondente às fases 1, 2 e 3 do UCM, os espectadores e fãs esperavam o mesmo padrão de qualidade da Marvel na fase seguinte. Com a pandemia e ascensão do streaming, a Disney iniciou seu projeto de lançar e criar séries e filmes da Marvel diretamente em seu serviço Disney+. Com início promissor, as obras Wandavision (2021) e Loki (2021-2023) mantiveram o sucesso da empresa entre o público, no formato seriado.

Após as séries que acompanham os anti-heróis Wanda e Loki, o UCM iniciou o seu maior período de crise. Filmes de personagens icônicos do universo desagradaram a maioria dos espectadores, até mesmo os fãs mais assíduos. Viúva Negra (Black Widow, 2021), Thor: Amor e Trovão (Thor: Love and Thunder, 2022), As Marvels (The Marvels, 2023) e Homem-Formiga: Quantumania (Ant-Man and The Wasp: Quantumania, 2023) são exemplos de obras que não mantiveram o padrão de qualidade da saga anterior. O filme protagonizado por Paul Rudd, inclusive, tem a pior nota crítica de um filme da Marvel no Rotten Tomatoes (desconsiderando as produções do universo pertencente à Sony e antigos filmes da FOX).

Filme apresentou Kang, protagonizado por Jonathan Majors e grande vilão da nova saga. Depois da recepção negativa e problemas do ator, o plano foi alterado [Imagem: Reprodução/IMDb]

Como se não bastasse, o retorno das séries da empresa não foi nada positivo. Mesmo com um bom ínicio, obras como Ms. Marvel (2022) e She-Hulk (2022) são apenas exemplos de produções muito abaixo da média Marvel. Se antes o ruim era exceção, tornaram-se a regra no período recente.

Fator comum durante os últimos anos, a Marvel passou a produzir obras em massa para seu público. “Essa pressa na produção de filmes e séries de super-heróis, sem a manutenção da qualidade, é um grande fator para essa queda recente da empresa”, afirma Mariana. Só em 2021, foram 10 produções da Marvel, seja em formato seriado ou cinematográfico.  

Pelo lado da DC, se manteve a regularidade de antes: a inconsistência. Último filme do universo compartilhado, The Flash (2023) finalizou o antigo DCU tal como estava, de estado deplorável. Por sua vez, para contradizer a estatística, o filme Batman (2022), protagonizado por Robert Pattinson, foi um sucesso de crítica e público.

Filme mais recente do “morcegão” da DC rendeu três indicações ao Oscar [Imagem: Reprodução/IMDb]

Fora questões internas, os dois estúdios sofreram enormes consequências em suas produções devido à greve dos atores e roteiristas, que paralisaram projetos em 2023.

Mudanças necessárias e urgentes

Depois de um período de questionamentos e incertezas, ambas as instituições decidiram mudar seus trajetos e planos. Bob Iger, presidente da Disney, informou que o lema para a Marvel agora é “menos quantidade, mais qualidade”. Como forma de intensificar essa proposição, a instituição foi dividida em três novos setores: o de animação, o de séries e o de filmes. 

Depois de problemas fora das telas com o ator do vilão da nova saga, medidas mais drásticas foram tomadas por Kevin Feige, presidente da Marvel Studios. Para atrair a atenção dos fãs e alterar os rumos dessa fase, Feige convidou caras conhecidas para os próximos dois grandes filmes (Vingadores: Doomsday e Guerras Secretas): os irmãos Anthony e Joseph Russo, diretores dos filmes anteriores dos Vingadores, e Robert Downey Jr, que protagonizou o Homem de Ferro, e agora será o antagonista dessa saga, o Doutor Destino.

Além dessas alterações e novidades, o calendário de produções da Marvel também mudou. Esse ano, apenas Deadpool e Wolverine (2024) foi o filme lançado pela empresa, enquanto Agatha: Desde Sempre (2024) e What If, com uma terceira temporada, prevista para o fim de 2024, foram as únicas séries. Essa diminuição das produções já surtiu um efeito positivo. Depois de alguns anos em baixa, tanto o filme de Ryan Reynolds quanto a série protagonizada por Kathryn Hahn foram um enorme sucesso entre o público.

Filme que teve o retorno de Hugh Jackman como Wolverine, divertiu os fãs e fez o público voltar aos cinemas para ver um filme de super-herói, depois de tantas decepções [Imagem: Reprodução/IMDb]

“Depois de Homem-Formiga: Quantumania e algumas outras produções, finalmente a Marvel sentiu no bolso a falta de qualidade da pressa”

Mariana Prado

A DC Comics, por sua vez, depois do reset do seu universo pós The Flash , aposta na capacidade de James Gunn para recriar essa realidade compartilhada. Diretor da trilogia Guardiões da Galáxia e O Esquadrão Suicida (2021), James é um completo entusiasta de histórias em quadrinhos e ficou conhecido por excelentes produções no cinema, em filmes de super-heróis. 

Nas mãos do atual CEO da instituição, fulano de tal, o novo universo terá início com o filme Superman: Legacy, que já está em produção e com previsão de lançamento para 2025. Outras produções como o questionado Coringa: Delírio a Dois (Joker: Folie à Deux, 2024) e Batman 2, previsto para 2026, irão continuar, mas não pertencerão ao DCU. 

Além de novos filmes de personagens já conhecidos, todo o elenco anterior não será aproveitado, havendo outros atores no papel de cada personagem do mundo dos quadrinhos. “James Gunn é uma pessoa excelente para esse novo universo. Ele é o geek, o típico nerd que adora HQs e entende sobre o mundo dos heróis”, afirma Mariana. “Para que dê certo, é necessário deixar o passado para trás (em relação aos antigos atores), por mais que em alguns pontos tenha agradado aos fãs e público”, complementa.

A saturação dos filmes

Em meio a recente crise dos filmes de super-herói, veio à  tona o questionamento: será que houve uma saturação dos filmes de herói? Em 2022, o famoso diretor Quentin Tarantino afirmou que os filmes de super herói não são “cinema”, são como parques temáticos.  Dessa maneira, esse tipo de produção acaba cansando e não move seus espectadores.

Para Mariana, a questão não procede, já que sempre haverá novos quadrinhos e histórias interessantes para se abordar no cinema. “A questão está na qualidade das produções. Os filmes de super-herói não são mais bobos, ingênuos. Eles, atrelados aos quadrinhos, possuem camadas e podem estar atrelados a vários gêneros.”

As histórias dos quadrinhos, adaptadas ou não às telonas, se enquadram em diversos gêneros do cinema. De ação ao drama, a riqueza de personagens que podem aparecer em filmes e séries torna os tratados “filmes de super heróis” impossíveis de se tornarem saturados.

“Os heróis são apenas elementos da história. Não existe o gênero ‘filme de super herói’. O que está saturado é a falta de carinho, de afeto e cuidado com essas produções”

Mariana Prado

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