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Em nome do Pai, do Filho e da Diva, Amém! 

Mulheres dentro da indústria musical revolucionaram o conceito de artista e atingiram multidões de fãs
Por Pedro Morani (pedromorani@usp.br)

O termo “Diva Pop” é um título dado a um tipo específico de artista musical, majoritariamente mulheres. Mesmo que atualmente existam cantores que performam com uma excelência digna da alcunha, como o rapper Lil Nas X, um homem gay cisgênero, ou Sam Smith, uma pessoa não binária, são as mulheres que construíram e ainda mantém viva  essa designação  do que é ser uma Diva Pop. Cher, Madonna, Beyoncé, Lady Gaga e algumas outras que fizeram de suas carreiras o ideal, ou até mesmo o inalcançável. 

Essas mulheres, além de uma excelente performance vocal, precisaram construir diversas personas para as suas diferentes eras, que são, no vocabulário dos fãs e haters, períodos de tempo que marcam o lançamento de um disco. As exigências vão desde o conceito daquela nova persona que se apresenta em relação à aparência física, presença da artista no processo de criação e composição de suas canções, até os álbuns, clipes e sucesso comercial. Esses são os principais pontos que o jornalista Kelvin Figueiredo apontou em seu estudo, que analisou discursos da crítica e de fãs e haters no site Metacritics

Várias divas pop se apresentando, como Britney Spears, Rihanna e Beyoncé
Algumas das Divas Pop que marcaram as últimas gerações [Imagem: Reprodução / Quem] 

Trajetórias de Sucesso 

O sucesso não tem uma fórmula, e é galgado de diferentes formas por essas cantoras. Beyoncé, a atual maior vencedora do Grammy, iniciou sua carreira num Girl Group, o Destiny’s Child, e depois seguiu carreira solo. De acordo com o estudante João Lopes, fã da cantora há 15 anos, “Ela percebeu que seguir carreira solo seria a sua melhor opção devido ao seu enorme potencial.” Todo seu talento e dedicação à música fazem jus a essa escolha: Um exemplo é seu hit Crazy in Love do seu primeiro álbum de estúdio, o Dangerously in Love, que faz sucesso até hoje, 20 anos depois, acrescenta João. 

Um outro exemplo de início de carreira diferenciado foi o de Adele, cantora britânica que começou sua trajetória na música ingressando na BRIT School, Escola de Artes no Reino Unido, aos 14 anos, mas que depois de dois anos acabou desistindo. Para Marcos Boé, estudante de administração e administrador de fã clube da cantora, o que a diferencia das outras é a sua capacidade de composição e sua voz forte que encanta o público. Além de suas músicas se relacionam muito bem com situações amorosas dos fãs, o que a fez conquistar o auge de sua carreira. 

Essas cantoras precisam ter atos marcantes em suas trajetórias, que revolucionem a história da música pop de alguma forma. Seja em títulos e conquistas comerciais, como o clipe mais visto em 24h no Youtube, ou canção a ficar por mais tempo no primeiro lugar da Hot 100 da Billboard; ou em sucessos de crítica, como Beyoncé sendo a artista mais premiada do Grammy: todas essas conquistas e até fracassos da música pop vão respaldar os afetos dos fãs e haters que estão sempre atentos e comentando sobre isso. Como se fosse uma novela que um público acompanha, mas cada um tem uma visão particular sobre a narrativa, afirma Kelvin. 

Desde  Madonna colocando homens negros gays para dançarem no Grammy em pleno auge da epidemia do HIV/AIDS; até Beyoncé tendo a melhor apresentação da história do Coachella,  Lady Gaga sangrando ao vivo no VMA ou o retorno de Rihanna aos palcos no Super Bowl, todas essas mulheres fizeram história, e não necessariamente porque agradaram a todos, mas porque fizeram todos se lembrarem delas por um longo período. 

 Outro ato que indica o auge do sucesso dessas mulheres é uma turnê bem sucedida. Beyoncé está fazendo a Renaissance Tour, que é uma das mais procuradas do ano. João teve a oportunidade de ir a um show e contou um pouco para a Jornalismo Júnior. “Eu simplesmente não conseguia acreditar que eu estava lá e que a Beyoncé estava na minha frente”, afirma o jovem, que assistiu ao show da cantora em Barcelona. 

Corpos performáticos, corpos políticos 

Um dos principais desafios enfrentados por essas cantoras é como lidar com a misoginia sobre seus corpos. Cada intervenção ou mudanças corporais que ocorrem são expostas de diversas formas e acabam virando motivo de comentários públicos. 

A cantora Adele, por exemplo, manteve-se fora dos holofotes durante o início da pandemia e reapareceu em 2021 com um corpo diferente do que costumava ter. A britânica sempre foi uma mulher gorda, e quando apareceu magra, tudo de sua vida se tornou sobre isso. Segundo Marcos, ela emagreceu por uma questão de saúde mental, na qual ela recorreu à academia para tentar diminuir a ansiedade causada pelo divórcio. Porém, a mídia optou por expor toda essa situação como algo positivo, e hoje, mesmo com uma carreira excelente, ao pesquisar o nome da cantora, os primeiros resultados são relacionados  ao seu corpo. 

Ao escolherem ter filhos, essas mulheres são quase que obrigadas a dividir toda a experiência da maternidade com o mundo. Beyoncé, hoje mãe de três crianças, contou depois de já ter tido a sua primogênita, Blue Ivy, sobre  suas tentativas anteriores que não deram certo, e sobre como ela precisou manter segredo para anunciar sua gravidez para quando tivesse certeza. 

Essas questões pessoais são inerentes às vidas delas, até porque mesmo sendo tratadas quase como divindades, elas ainda são seres humanos. O grau de exposição de suas vidas não é o fator determinante para isso, mas sim o machismo da sociedade. E como os afetos são inseparáveis na cultura pop, o hate também é. “Porque nada é consensual e apaziguado na cultura pop, tudo é disputado”, afirma Kelvin. 

Tirar um tempo de férias para viver um momento mais pessoal como um casamento ou maternidade faz toda uma base de fãs, acostumada com uma infinidade de videoclipes de cantoras grávidas, ensaios virais no Instagram, casamentos luxuosos e super midiáticos, questionarem se estas são de fato cantoras. A relação entre trabalho e vida pessoal marca a figura da Diva. Não é só sobre música, muito menos sobre sua persona. É um misto das duas coisas e que precisa de certa constância para que os debates se mantenham aquecidos. 

Beyoncé performando grávida no Grammy 2017
Beyoncé performando grávida no Grammy 2017 [Imagem:Reprodução / EGO] 

O futuro das Divas 

O futuro é sempre incerto, e nunca se sabe se uma carreira tem prazo de validade. O que está ocorrendo com a maioria das Divas Pop é um processo de colheita daquilo que plantaram durante uma vida inteira de esforço e trabalho. Parte disso envolve um processo de adaptação de carreira que algumas delas aderem para expandirem seus faturamentos e se manterem notáveis. 

Algumas Divas têm apostado em criações de marcas próprias, que vão desde marcas de produtos de maquiagem até de vestuário. As divas atualmente  querem mostrar que seus talentos vão além do canto, principalmente as que possuem uma carreira consolidada, a exemplo de Rihanna com a Fenty Beauty, marca de produtos de beleza criada pela cantora. São artistas que querem manter seu legado, mesmo que algum dia deixem de seguir carreira musical. “Isso é uma forma de que se mantenham na boca, no corpo e até mesmo no cabelo do povo, metaforicamente dizendo”, afirma João. 

Rihanna em anúncio de sua marca de maquiagem, Fenty Beauty
Rihanna em anúncio de sua marca de maquiagem Fenty Beauty [Imagem:  Reprodução / Sephora]

Uma Diva Pop não carrega esse nome à toa. Existem várias potências pelo mundo, que podem contar com seus talentos individuais e se prepararem ao longo da vida e não conseguem atingir esse patamar. As que conseguem uma divulgação midiática precisam conquistar o maior desafio dessas cantoras, o público, que é o único que consegue comprar suas histórias e fazer delas Divas. 

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