Primeiro volume de uma série de seis livros, Duna é considerado por muitos o maior romance de ficção científica da história. E não é para menos: a obra escrita por Frank Herbert em 1965 se mantém até hoje como uma das sagas mais brilhantes do gênero, ao tratar sobre temas universais como ecologia, poder, religião e amadurecimento. O sucesso é tão grande que o livro ganha nova adaptação para o cinema: o aguardado filme de Denis Villeneuve tem estreia nacional marcada para quinta-feira (21).
Publicado no Brasil pela Editora Aleph, Duna (2017) é situado no espaço, em um universo próprio no futuro distante. Paul, filho do duque Leto e de Lady Jéssica, tem 15 anos e nasceu em Caladan, um planeta com grandes oceanos e ar respirável. O garoto e seus pais pertencem à família Atreides, uma das Casas Maiores (os clãs-feudais) do Imperium interplanetário.
No início da narrativa, os Atreides, que antes governavam Caladan, são chamados para tomar posse de Arrakis, um planeta coberto por desertos e com grande escassez de água — e, por isso, o corpo celeste também recebe o nome de Duna.
Mas não há apenas areia em Duna. Nos enormes desertos, ocorre a formação natural de uma especiaria chamada mélange, que é nada menos que a maior riqueza de Arrakis. Esse composto é produzido exclusivamente no planeta, e sua importância para as viagens espaciais torna-o um dos itens mais caros e cobiçados do mercado imperial — qualquer semelhança com o petróleo não é mera coincidência.
Em Duna também vivem os fremen. A população local sabe pouquíssimo sobre a vida desses povos nativos, mas há indícios de que eles vivem nas profundezas do deserto, cercados pela preciosa especiaria e por vermes — criaturas monstruosas e gigantes que assombram os visitantes do planeta.
Assim, o jovem Paul Atreides se vê em um mundo desconhecido e radicalmente diferente de seu planeta natal — e deve se adaptar a essas mudanças para provar seu valor, derrotar inimigos e garantir o cumprimento de seu destino.
Space opera com ambientalismo e política: a receita do sucesso
Duna se eternizou na literatura como um dos grandes clássicos da ficção científica e do subgênero space opera, comparado até mesmo com O Senhor dos Anéis por Arthur C. Clarke, autor de 2001: Uma Odisséia no Espaço e Encontro com Rama. A saga também é tida por alguns como uma fonte de inspiração para Star Wars, franquia que dispensa apresentações, e guarda certas semelhanças com Game of Thrones.
A obra de Herbert é considerada pioneira e revolucionária por vários aspectos. Em primeiro lugar, Duna não é uma ficção científica dominada por robôs, tecnologias eletrônicas ou androides futuristas. Muito pelo contrário, os computadores foram extintos no universo da saga: o foco narrativo está nos seres humanos e no poder da mente e do pensamento.
Além disso, o estilo de escrita do autor apresenta características que aproximam a obra de uma experiência cinematográfica. As descrições dos ambientes e o mergulho do narrador onisciente nos pensamentos dos personagens contribuem para gerar uma narrativa panorâmica e visual, estimulando a imaginação do leitor.
No plano temático, Duna ganha destaque pela abordagem de questões atuais e muito discutidas na sociedade, como exploração de recursos naturais, poder e hierarquia.
Dada a aridez de Arrakis, a água se torna um bem valioso. É preciso reciclar o líquido do corpo, usando um equipamento específico para isso, e até mesmo reaproveitar o orvalho. Porém, aqueles que detêm maiores reservas de água não hesitam em desperdiçá-la, o que se relaciona com o atual desprezo por recursos da natureza.
“Os homens e suas obras foram uma doença na superfície de seus planetas até agora. (…) A natureza costuma compensar as doenças, removê-las ou isolá-las, incorporá-las ao sistema a sua própria maneira.”
O livro também não deixa de lado discussões polêmicas da vida coletiva. Rapidamente, o leitor percebe a dimensão da importância da religião em Duna e a maneira como essa é atrelada à política. Isso promove o debate sobre as consequências dessa conexão, que reverberam até o presente — a ascensão de líderes messiânicos nos dias de hoje é um exemplo que dialoga diretamente com essa questão.
Cabe ainda destacar que Duna é uma narrativa sobre o amadurecimento e o despertar do protagonista para a realidade e suas capacidades máximas de transformação do mundo. Assim, o romance se apropria da tradicional jornada do herói para transformá-la em algo ainda mais universal e cativante.
A identificação do leitor com os acontecimentos trágicos, as dores e o crescimento de Paul são outros fatores que podem explicar o sucesso estrondoso da obra.
“Um dos momentos mais terríveis da vida de um menino — disse Paul — é descobrir que seu pai e sua mãe são seres humanos que dividem um amor que ele nunca conhecerá. É uma perda, um despertar para o fato de que o mundo está ali e aqui, e estamos nele, sozinhos.”
‘Duna’: uma saga eternizada pela história e pelo cinema
Duna tem lugar garantido nas listas dos melhores livros de ficção científica e merece ser lido por todos aqueles que se interessam pelo gênero ou que desejam se aventurar em uma narrativa densa, exigente e universal no que se refere à experiência humana.
É uma obra atemporal, que pode confundir os leitores mais dispersos nas primeiras páginas, mas que recompensa o público com uma trama instigante e personagens complexos.
O cineasta franco-canadense Denis Villeneuve, diretor de Blade Runner 2049 (2017) e A Chegada (2016), tem nas mãos uma enorme responsabilidade: levar o universo irretocável de Duna para as telas dos cinemas e superar outra adaptação da obra à sétima arte, feita em 1984 por David Lynch.
E tudo indica que o novo filme corresponderá às expectativas dos fãs, ansiosos desde 2020 pelo lançamento da produção estrelada por Timothée Chalamet, Zendaya, Rebecca Ferguson e Oscar Isaac. A adaptação é sucesso de bilheteria nos países em que já estreou e deve ter uma das maiores arrecadações do ano no Brasil.
Confira o trailer do filme, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (21):
*Imagem de capa: Gabriel Gama Teixeira
Muito boa matéria. Apesar de não ser muito fã desse tipo de filme me aguçou a vontade de assistir. Parabéns, Gabriel!