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‘Uma Farsa de Amor na Espanha’: como uma escrita prolixa quase acaba com um bom romance

Recém lançado pela Editora Arqueiro, Uma Farsa de Amor na Espanha promete um romance clichê de aquecer corações, mas encontra percalços que quase mascaram tal magia

Uma farsa de amor na Espanha (Arqueiro, 2022), o mais novo lançamento da autora Elena Armas no Brasil, promete ser sucesso de vendas. A expectativa se dá porque a obra já era queridinha entre a comunidade literária do Tiktok e do Instagram desde antes mesmo de ter uma edição em português — com The Spanish Love Deception, os leitores brasileiros se encantavam e recomendavam nas redes sociais sem parar, até que a Editora Arqueiro se propôs a traduzi-lo.

Com uma trama não muito inovadora — o típico romance em que os protagonistas vão de inimigos para amantes envolvendo um namoro falso —, o livro gira em torno de Catalina, uma engenheira que saiu da Espanha para trabalhar em uma empresa do ramo em Nova York. O grande problema inicial dela é: sua irmã, Isabel, se casará em breve e Lina, como prefere ser chamada, precisa encontrar algum acompanhante. O desespero da jovem ao imaginar-se indo sozinha e reencontrando os familiares não é completamente explicado, mas o leitor descobre que o ex-namorado de Lina, Daniel, que é cunhado de Isabel, está noivo. Sem saber como o relacionamento deles terminou, o passado da protagonista continua às cegas.

A primeira parte negativa do livro se inicia após Aaron, o colega metódico, que aparentemente não gosta dela, e é extremamente correto em tudo, se dispor a acompanhá-la no casamento e insistir para que Catalina aceite sua oferta. Apesar de parecer uma atitude legal e que faz todo o sentido no final da trama, a forma como o interesse dele foi apresentado no início foi estranha e distinguia-se das características que lhe eram atribuídas, como se ele estivesse desesperado, e não ela. A construção do protagonista, até este ponto, vai de encontro a tal atitude: seria inimaginável pensar que o maior inimigo de Catalina iria praticamente implorar para acompanhá-la em uma viagem internacional — ainda mais se tratando de um encontro familiar. A desavença entre os dois também é pontuada na história logo no começo, embora sem explicações. Mas, em nome do bom romance clichê, toda essa confusão  pode — e deve — ser completamente ignorado. 

Um dos pontos positivos da história é a própria Lina, uma personagem extremamente divertida e desenvolvida com naturalidade por Elena Armas.Porém, apesar de interessante de ser acompanhada, a leitura se torna cansativa em diversos pontos pelo excesso de reflexões da protagonista. Não havia necessidade de tantas ponderações sobre o passado, ou até mesmo sobre o presente, enquanto informações cruciais para a história continuavam sendo deixadas para depois.

 

O desenho em fundo branco mostra dois personagens brancos centralizados de costas um para o outro. Na frente, uma mulher de cabelos castanhos e vestido longo vermelho com uma fenda na perna direita com a mão direita na cintura. Atrás, um homem branco de terno azul e gravata preta com a mão esquerda no bolso e a direita fechada na frente do corpo. Ao fundo, há um arco bege com flores brancas e vermelhas. São os protagonistas do livro Spanish Love Deception, ou uma Farsa de amor na Espanha
A viagem à Espanha e o casamento da irmã de Catalina são os momentos mais aguardados e mais bem desenvolvidos do livro. Por isso, são os momentos que mais aparecem em fan arts e em montagens feitas pelos fãs da obra. [Imagem: Reprodução/Inst/@jessdrwa.s]

No que tange o protagonista, pouco se sabe sobre Aaron e suas intenções, mas o desenvolvimento do romance faz jus ao gênero romance lento (slow burn romance), uma vez que ele é realmente engatado somente depois da metade do livro. Até chegar a esse ponto, o leitor precisa passar por duas provações: ignorar a quantidade de vezes em que a autora ressalta os olhos azuis oceano de Aaron; e relevar o fato dele ser o tempo todo retratado como cavalheiro, lindo, alto, sério, e inteligente — um verdadeiro príncipe de contos de fadas. Em certo ponto da história, é completamente plausível esperar que ele apareça com um cavalo branco para resgatá-la, pois somente esse clichê foi deixado de lado. 

Não é apenas o romance que se desenvolve de forma lenta e controversa, entretanto. A própria história se desdobra de tal modo lento e desencorajador que, se não fosse pontuada por momentos extremamente clichês, correria o risco de ser abandonada até mesmo pelo mais curioso dos leitores. O casamento da irmã, por exemplo, que, em teoria, é o ponto de partida de toda a narrativa, só chega na metade do livro. A intenção da autora talvez tenha sido justamente essa, criar um suspense para só então apresentar no momento mais esperado. Contudo, para uma obra de 448 páginas , esperar mais da metade dela para só então acontecer o ponto central da história, é muito arriscado — e se torna prolixo.  

 

“Se estou interessado em alguém, eu me faço ser ouvido. 

E irei encontrar um jeito de fazer ela saber. Cedo ou tarde, ela saberá”

                                                                      Trecho de Uma Farsa de Amor na Espanha

 

O romance começa a progredir, a história da Lina é realmente descrita e a personalidade do Aaron é finalmente desenvolvida. Tudo se encaminha para um final que, embora óbvio, é muito instigante. A relação entre os protagonistas evolui de maneira muito natural, sólida e bem desenvolvida, o que conquista, durante esse período na Espanha, facilmente quem acompanha a história. Além disso, quando o leitor conhece de verdade Aaron, ele começa a se parecer mais com humano, ao invés de ser somente um príncipe encantado. 

Assim como os dias de festa acabam, contudo, o ritmo gostoso do livro também é interrompido ao voltarem para Nova York: a escrita prolixa alcança patamares inimagináveis pela demora com que coisas simples e situações sem muita importância são contadas. Além disso, a autora ramifica a história de maneira desnecessária em um momento que deixa claro para o leitor que não há páginas suficientes para que haja uma conclusão satisfatória de todos os pontos abordados no livro, tanto os novos, quanto os antigos.. Fica claro nesse ponto da leitura que a finalização não será das melhores — e realmente não é — pelo espaço insuficiente restante no livro, enquanto que, até este ponto, momentos desnecessários foram desenvolvidos sem necessidade. Ao final, contudo, todos os questionamentos são sanados e a abordagem inicial é compreendida. As poucas páginas, quando comparadas ao livro inteiro, dedicadas à viagem até a Espanha fazem o livro inteiro valer a pena, pois são uma virada na forma da escrita também, que fica muito mais fluida, como se a autora estivesse se segurando esse tempo todo para finalmente escrever essa parte. A sensação final, embora muito ambígua, é de um frio na barriga e de muito amor pelo casal. O desapontamento pela conclusão não é capaz (por muito pouco) de esconder o glamour e o charme de Aaron e Catalina, e para aqueles que têm paciência e gostam de um slow burn romance, Uma Farsa de Amor na Espanha é uma ótima aposta.

 

Imagem de capa: Maria Vitória Faria

 

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