Sebo literário é o nome popular dado a lugares que compram, vendem e trocam livros. No início da pandemia, com o aumento de vendas de livros devido ao isolamento social, muitas pessoas procuraram sebos para preencher o vazio que a falta do convívio social deixava em suas vidas.
Foi nesse contexto que Luana Pessoa passou a comercializar livros usados. “O sebo começou sem pretensão alguma”, comenta a empresária. Luana e seu marido, Sebastião, começaram as vendas em marketplace de livrarias on-line e, aos poucos, com o sucesso das vendas, passaram a expandir os negócios.

A empresária conta que se esforça para fazer um bom trabalho de curadoria, procurando títulos legais para oferecer aos clientes. Luana teve a oportunidade de comprar um acervo grande de livros em Águas Claras (DF) e, eventualmente, ela e o marido arriscaram e abriram o Sebo Porão do Livro na Asa Norte (DF).


“O nome veio porque quando a gente adquiriu [o acervo], ficou tudo na nossa casa”. A gente praticamente desmontou a nossa casa e nossa sala, quando você entrava, tinha uma passagem e só dava para entrar desviando. Então realmente, estava igual um porão a nossa casa.

Luana afirma que, mesmo com o aumento das vendas de livros no início da pandemia, os sebos sofreram com o comércio “desleal” de grandes lojas on-line como a Amazon. “A gente costuma dizer que a Amazon tem um objetivo: destruir as livrarias”, ela diz, lembrando também que várias livrarias foram fechadas recentemente. “Aqui em Brasília, já tem pouquíssimas”.

Renata Marson, escritora e cliente do sebo, explica o que distingue as livrarias tradicionais da Amazon. “Você encontra raridades, acho que é esse o diferencial. E encontra o que as pessoas já leram, então também tem uma história que está associada a essa leitura.”

Para Luana, os livros têm poder revolucionário e os sebos oferecem uma proposta diferente das livrarias tradicionais. Renata também compartilha dessa opinião, afirmando que uma das suas coisas favoritas são os “achados” dentro dos livros. Luana já encontrou dinheiro (tanto Reais quanto Cruzados e Cruzeiros), cartas de amor, notas discordando do autor, listas de compras, relatos de viagens etc.

“Eu acho que o sebo dá essa chance de ter uma variedade maior de edições, porque são edições que não circulam mais nas livrarias. E fora que, em geral, sebos têm uma atmosfera mais antiga e eu gosto disso”, diz Pedro Couto, professor de literatura e cliente do sebo.

O Sebinho, fundado nos anos oitenta, já é um ponto clássico para os leitores de Brasília. Cida Caldas, proprietária do local, conta que o sebo – que hoje é uma loja muito espaçosa de dois andares – começou em uma quitinete. “Se tinha cinquenta livros era muito. Meu primeiro emprego em Brasília foi em uma livraria”, ela diz. “A livraria fechou e, como pagamento, eu tive livros e algumas estantes. Foi isso que deu um gás para o Sebinho aumentar na época.”


“Hoje a gente tem essa extensão toda e a gente tá sempre apostando em inovações, tá sempre de olho no mercado e sempre inovando com novos materiais. A gente não trabalha só com livro, acho que o café e bistrô deu um gás também para o negócio e hoje temos uma vasta área de HQs que em Brasília é considerado o melhor sebo de histórias em quadrinhos da cidade. Não dá pra parar; tem que estar sempre pensando à frente. Essa coisa da tecnologia também, devem tentar sempre ser aliada da tecnologia para alavancar as vendas”

“O meu sonho é que os sebos nunca morram: que continuem a existir. Eu aposto muito na formação de leitores”, Cida afirma. “Ler é um ato político”.

Caroline Araújo trabalha no Sebinho há três anos e pensa que os sebos podem fazer a leitura ser mais acessível, fornecendo livros com a mesma qualidade mas a preços menores. Também adiciona que é uma forma de ser menos consumista.