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Z: A Cidade Perdida – Um novo Indiana Jones?

“A última peça do quebra-cabeça da humanidade”. Z: A Cidade Perdida (The Lost City of Z, 2017) conta a história verídica de Percy Fawcett, retratando  suas três expedições pela Floresta Amazônica, e também sua vida pessoal. O filme é dirigido por James Gray, e tem em seu elenco estrelas como Charlie Hunnam, Robert Pattinson e …

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“A última peça do quebra-cabeça da humanidade”. Z: A Cidade Perdida (The Lost City of Z, 2017) conta a história verídica de Percy Fawcett, retratando  suas três expedições pela Floresta Amazônica, e também sua vida pessoal. O filme é dirigido por James Gray, e tem em seu elenco estrelas como Charlie Hunnam, Robert Pattinson e Tom Holland.

Percy Fawcett (Charlie Hunnam) é um condecorado oficial e explorador britânico, porém com um passado genealógico ingrato. No ano de 1906, ele é chamado pela Royal Geographical Society (Real Sociedade Geográfica) para resolver o tenso conflito diplomático entre os governos da Bolívia e do Brasil em relação à delimitação de sua fronteira. Para isso, ele conta com a ajuda também explorador inglês Henry Costin (Robert Pattinson). O que a princípio era apenas uma missão específica se torna uma obsessão. Fawcett passa a acreditar na existência, dentro do região amazônica, de uma mitológica e desconhecida cidade, a qual ele batiza de “Z” (o que se falta para conhecer da humanidade).

A trama tem problemas de desenvolvimento. É perceptível a tentativa nobre da produção em diferenciar Z: A Cidade Perdida de outras películas de aventura ao diminuir seu ritmo, mas é importante ter em mente o provável desconforto que um espectador não assíduo de cinema tenha com a lentidão do filme. Salve alguns confrontos com povos indígenas, as cenas de exploração chegam a se tornar um pouco cansativas e repetitivas, infelizmente. Além disso, a noção de tempo decorrido e do desgaste dos exploradores com as expedições fica prejudicada. Não se tem a impressão de que cada viagem consumiu muitos anos. O enredo até tenta corrigir isso, mas de maneira forçada: a partir do crescimento dos filhos de Fawcett.

O drama dos reencontros entre o protagonista e sua família é o outro núcleo principal da história. Seus expoentes são a mulher (Sienna Miller) e o filho mais velho (Tom Holland), os quais são muito impactados pela ausência de Fawcett em suas vidas. Em um primeiro momento, tal drama não consegue prender ou sensibilizar o espectador, muito pela falta de carisma dos personagens, algo que será aprofundado mais a diante. Porém, a questão familiar passa a se destacar com o cansaço da aventura na Amazônia e, principalmente, com a eclosão da guerra. A Primeira Guerra Mundial se faz presente no enredo, servindo como um ponto de virada e revitalização da trama. É interessante apontar a grande coincidência com a qual Fawcett e Costin caem no mesmo esquadrão. Entretanto, o final é desenhado com uma primazia de encantar, como nenhuma outra cena do longa o fez.

As atuações de Charlie Hunnam e, principalmente, de Robert Pattinson são muito admiráveis. Infelizmente, a estruturação dos personagens não condiz com a capacidade mostrada pelos dois atores. Falta-lhes carisma. Fawcett é moldado como o típico e cansativo herói de cinema. Ele é determinado, corajoso e ético, até mesmo quando erra. Ele percebe o que ninguém consegue, e tenta (sem nunca desistir) expor isso para o mundo, mesmo sem conseguir o retorno merecido. Já Costin é apresentado como alguém de personalidade curiosa e cômica. Lamentavelmente, isso se limita a sua primeira cena. Ao longo do filme, o personagem não se desenvolve. Pattinson atua bem, porém é preso ao papel de um homem pouco expressivo, com uma rara exceção de euforia durante a primeira expedição. Tom Holland, mais conhecido como o novo Homem-Aranha, tem uma participação muito reduzida para ser avaliado de maneira precisa e justa.

Algo de inovador é a presença da questão feminista, personificada em Nina Fawcett, a esposa do protagonista. Ela almeja ser vista de igual para igual com seu marido, querendo acompanhá-lo em sua última viagem para a Amazônia. Entretanto, ela se frustra, assim como o espectador. O tema é posto na trama, mas esquecido pela mesma. É como se Nina tivesse simplesmente aceitado o papel da “boa esposa do lar”. Coube a ela, como único feito, ter achado uma “importante” papelada geográfica no meio de uns arquivos, mas nem isso foi mostrado direito. O auge da questão é levantado durante uma briga entre Nina e Fawcett recheada por expressões pomposas, mas sem conteúdo.  

O diretor de fotografia de Z: A Cidade Perdida é o franco-iraniano Darius Khondji,   responsável por muitos pontos altos da produção. Os cortes e ângulos de filmagem são muito bem escolhidos para alcançar efeitos expressivos, seja para demonstrar a imensidão de um campo de estepe ou para prender o espectador nos detalhes e na densidade da Floresta Amazônica. Embora não seja do nível de O Regresso (The Revenant, 2015), a iluminação é muito bem trabalhada. O jogo entre os contrastes de luz é feito de maneira determinante, mas mantendo uma exemplar naturalidade da iluminação. As cores da floresta são fortes e vivas, embelezando ainda mais a estética do longa.  

Com 88% no Rotten Tomatoes e 7,1 no IMDB, Z: A Cidade Perdida pode ser encarado como, talvez, superestimado pela crítica. Esse não é um filme para quem goste somente da ação da aventura. A película, do ponto de vista técnico, é muito bem feita, mas peca, e muito, em aspectos como a estrutura do enredo e dos personagens. Não fosse por isso, talvez, seria justo chamá-la de “um novo Indiana Jones”. Isso não retira, entretanto, os méritos que tem em se diferenciar, com exceção do protagonista estereotipado de outros do gênero. O filme estreia dia 1 de junho, confira o trailer:

Por Caio Mattos
caiomattcardoso@gmail.com

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